Bebiana Rocha
A marca espanhola Silbon participou ontem no webinar ‘A Economia Circular na Indústria Têxtil e Vestuário’, organizado no âmbito do projeto RESOTEX, onde partilhou que mais de 50% da sua coleção foi produzida em proximidade em 2024, grande parte em Portugal.
“A proximidade da produção permite um controlo otimizado”, afirmou Aécio Dantas, diretor de sustentabilidade, destacando que a flexibilidade das empresas portuguesas é fundamental numa altura em que o gosto do consumidor é tão volátil.
“Queremos aumentar o número de peças fabricadas em Portugal. Portugal é o nosso aliado e uma referência europeia”, acrescentou.
Durante a sua apresentação, Aécio Dantas abordou também a estratégia de circularidade da marca: “Estamos contentes com o caminho que a marca tem realizado desde 2009, a nossa estratégia da sustentabilidade faz parte do negócio, integra uma estratégia multidisciplinar e não isolada”.
Em frente a cerca de uma centena de participantes, o responsável apresentou a trajetória da marca andaluza, cuja identidade está ligada à moda masculina e à qualidade a preços acessíveis.
A cronologia da Silbon inclui marcos importantes: 2015 – início da integração da sustentabilidade na ótica da responsabilidade social e corporativa; 2019 – lançamento da linha kids; 2021 – entrada no segmento feminino, atualmente responsável por 15% da faturação; 2022 – criação do departamento de sustentabilidade, alinhado com as regulamentações europeias; 2023 – definição de novas linhas de trabalho na área de sustentabilidade; 2025 – marca a criação da Fundação Silbon, focada na formação e inserção de grupos vulneráveis na indústria.
Atualmente, a Silbon possui mais de 160 pontos de venda, mais de 800 colaboradores e desde 2021 registou um crescimento de 40%.
É uma empresa sem investimento externo, com forte presença no mercado espanhol, especialmente de Madrid para o sul do país, e pretende reforçar a sua presença internacional. Os planos incluem a abertura de uma loja própria em Lisboa, a recente inauguração de uma loja em Miami e inserções estratégicas em lojas multimarca no Chile, Colômbia e Peru.
O que diferencia a Silbon de outras marcas é, nas palavras de Aécio Dantas, a oferta de produtos de fundo de armário, atemporais, com qualidade e preço acessível, capazes de resistir à volatilidade do setor da moda, clarificou. “Vestimos todos os públicos, a família”, reforçou, destacando a força da marca na alfaiataria.
Outra vantagem competitiva reside na logística: o centro próprio de 16 mil metros quadrados permite centralizar operações e satisfazer todas as necessidades do consumidor.
O perfil do cliente Silbon é médio-alto, 75% mulheres. A marca pretende tornar-se cada vez mais aspiracional e, para tal, aposta em localizações de prestígio nas cidades espanholas, com lojas espaçosas, sendo a flagship store em Córdoba um exemplo disso.
Em 2024, a Silbon faturou 60 milhões de euros e prevê atingir cerca de 100 milhões em 2025, com 30% deste valor proveniente do e-commerce. Segundo Aécio Dantas, a validação presencial da qualidade do produto continua essencial para fidelizar o cliente, o que depois facilita as vendas online.
A sustentabilidade é transversal às operações da marca. Atualmente, 80% dos produtos são produzidos a partir de materiais ecológicos.
A Silbon desenvolve ainda projetos de solidariedade, como a produção de pijamas para a ala infantil do Hospital Universitário La Paz, projetos de reflorestação e implementa mudanças laborais para aumentar a motivação dos colaboradores, incluindo flexibilidade horária, redução da jornada de trabalho, teletrabalho e desconexão digital.
Apesar destes esforços, o reconhecimento direto do consumidor ainda é limitado: “o cliente Silbon não está disposto a pagar mais pela sustentabilidade, por exemplo, só 3% clicam para ver o impacto ambiental dos produtos”.
Ainda assim, a marca avança com outras iniciativas, como o programa interno de compra e venda de produtos em segunda-mão, que também inclui reaproveitamento de peças com pequenos defeitos ou devoluções, atingindo um reaproveitamento de 65% neste momento – mais de 20 mil produtos anuais ganhando uma segunda vida. Estes projetos não só evitam o envio de roupas para aterros como também permitem chegar a novos públicos.
No campo da descarbonização, a Silbon está a mapear as emissões junto dos fornecedores e compensará parte do seu impacto através da reflorestação de 13 hectares com 4 mil árvores e arbustos na zona de Córdoba, um projeto previsto para os próximos 30 anos, capaz de absorver 800 toneladas de dióxido de carbono.