Bebiana Rocha
Imagens: Doubledot
A ATP e a EURATEX voltaram a chamar à atenção dos jovens para as oportunidades do setor têxtil e vestuário no BIOCIR-TEX, evento realizado em Coimbra na semana passada. No dia 28 de novembro, Ana Dinis, diretora-geral da ATP, integrou a primeira mesa-redonda, na qual trocou ideias com Maria José Abreu (Universidade do Minho) e Elsa Parente (Positive Materials). Em destaque estiveram temas como a importância da colaboração entre entidades, a formação, a atratividade da indústria e o papel determinante do Norte de Portugal no panorama têxtil europeu.
A conversa evoluiu para o desafio de cativar novos talentos e de alinhar a formação às necessidades das empresas — cada vez mais orientadas pela rapidez, flexibilidade e inovação. Ana Dinis sublinhou a necessidade de continuar a dinamizar encontros que aproximem academia e indústria, reforçando a troca de conhecimento e a preparação de futuros profissionais.
O discurso encontrou continuidade no painel seguinte, com Mário Jorge Machado, vice-presidente da ATP e presidente da EURATEX. “O setor precisa de sangue novo. É essencial para mantermos todo o know-how que construímos”, afirmou, dirigindo-se aos jovens presentes.
Ao lado de Paulo Gameiro (Borgstena), Miguel Domingues (ATB) e João Sousa Branco (Banco Português de Fomento), destacou a dimensão e relevância do setor: “O STV é dos poucos considerados estratégicos na economia europeia. São vocês que lhe vão dar continuidade com novas ideias e inovação.”
O presidente da EURATEX recordou que o ecossistema têxtil mais robusto da Europa está em Portugal, concentrado no Norte. “Produzimos 8 mil milhões de euros, num contexto europeu que gera 170 mil milhões em têxteis. É um setor com enorme potencial e muitas oportunidades”, afirmou.
As saídas profissionais vão desde as áreas técnicas ao desenvolvimento de produto, passando pela pesquisa de mercado. “Há imensas oportunidades no chão de fábrica, mas também muito além dele”, exemplificando com a Adalberto, onde trabalham 30 engenheiros, poucos dos quais de engenharia têxtil. O essencial, reforçou, é a capacidade de aprender.
Mário Jorge Machado alertou ainda para os desafios da indústria europeia: “A Europa perdeu 4% de empregos no setor e o volume de negócios caiu 2% a 3%.” Destacou as pressões geoestratégicas, geoeconómicas e as mudanças no comportamento do consumidor, além da concorrência desleal de plataformas chinesas.
Recordou o papel da EURATEX em Bruxelas: “Somos a voz da indústria na Comissão e no Parlamento Europeu”. As políticas europeias têm sido mal conduzidas: exigem muito a quem produz cá e quase nada a quem produz fora. Exemplificou com a tarifa aduaneira, onde a UE chega a conceder 12% de desconto, e com a fraude fiscal em IVA que atinge centenas de milhões de euros anuais. “Somos muito bons a exigir a quem produz na Europa e somos uma nódoa a controlar quem produz fora. Temos um grande trabalho a fazer.”
O presidente da EURATEX sublinhou também a importância da reciprocidade, lembrando barreiras não tarifárias impostas por países como a China e que dificultam as exportações europeias – barreiras que não têm equivalente no sentido inverso.
Apesar dos desafios, os sinais de avanço começam a surgir: o trabalho de lobby da EURATEX permitiu antecipar para o primeiro trimestre do próximo ano a revisão das regras do minimis, inicialmente prevista para 2035, e viabilizou a criação de um fundo de inovação dedicado exclusivamente ao setor – o Textiles of the Future. “Só através de produtos diferentes poderemos continuar a liderar”, concluiu.
