Bebiana Rocha
Foi convocada para esta quinta-feira, 11 de dezembro, uma greve geral em protesto contra o novo pacote laboral proposto pelo Governo. Enquanto o Primeiro-Ministro, Luís Montenegro, minimiza a adesão ao protesto, apontando para cerca de 10%, os sindicatos reclamam taxas próximas dos 90%.
Para perceber o impacto no setor têxtil, o T Jornal ouviu esta manhã empresas de vários elos da cadeia produtiva – e o retrato é claro: a paralisação teve expressão quase nula, com os principais constrangimentos a surgirem nos transportes e na ausência de trabalhadores com filhos devido ao encerramento das escolas.
Na Lipaco, o CEO Jorge Pereira confirma funcionamento normal, embora admita preocupação com a greve dos estivadores, que pode afetar a entrada e saída de contentores num setor altamente exportador, bem como com eventuais perturbações causadas pelos entregadores.
Também na Sonix, Samuel Costa da administração refere atividade regular, assinalando apenas dois atrasos decorrentes do fecho dos estabelecimentos educativos.
António Alexandre Falcão, da Fitexar, e Ricardo Silva, CEO da Tintex Textiles, reportaram adesão zero. O mesmo cenário repete-se na maioria das empresas contactadas – entre elas Spring, Carmafil, Trimalhas, Riopele, Dune Bleue, Bordados Oliveira, Borgstena, ATB, Etevimol, Carjor, Têxteis Penedo, Familitex, Inarbel, Sampedro e Petratex – todas estavam a laborar com normalidade.
Na LMA, Alexandra Araújo admite algumas ausências nos departamentos comercial, contabilidade e controlo de qualidade, sobretudo de mães que ficaram sem alternativa para deixar os filhos. A administradora sublinha que estas situações não serão contabilizadas como falta e alerta para efeitos colaterais da greve: “Os sindicatos devem refletir no impacto que greves sucessivas têm junto dos grupos estrangeiros instalados em Portugal, como Bosch ou Autoeuropa”.
Também na TMG o impacto é residual. Vítor Fernandes explica que os despachos aduaneiros eletrónicos evitam perturbações imediatas, mas antecipa possíveis constrangimentos na exportação de sexta-feira. Já ao nível da produção e vendas, tudo decorre dentro da normalidade e a adesão é “muito baixa”.
Na Continental, José Campos, dos recursos humanos, aponta uma participação total – direta e indireta – na ordem dos 20% a 30%, com vários pais impedidos de trabalhar devido ao fecho das escolas.
No segmento dos têxteis-lar, Ricardo Silva, da Belfama, assinala que, apesar de algumas dificuldades de deslocação dos trabalhadores, a atividade se mantém estável. Também a Mundotêxtil reporta adesão zero.
No Fundão, a Twintex não sentiu qualquer impacto, e igual tranquilidade refere Ana Queirós, da Etfor, garantindo ausência total de perturbações, inclusive na cadeia de fornecimento.
Na zona centro, João Carvalho, CEO da Fitecom, regista apenas duas ausências relacionadas com apoio aos filhos.
O grupo Sidónios não registou adesões, a Pafil Clothing contabilizou três ausências indiretas e a Givachoice apresenta números idênticos.
Já a ERT, ligada ao setor automóvel – apontado como um dos mais afetados a nível nacional – revela um impacto residual de 2% a 3%, sem reflexo na produção.
“De acordo com a informação recolhida junto dos associados, 98% das empresas registaram zero adesão à greve. Nos restantes 2%, os valores variaram entre 1% e 10%”, sintetiza Ana Dinis, diretora-geral. Sublinha ainda que, na maioria dos casos, as ausências não resultaram da participação na greve, mas da impossibilidade de garantir alternativas de acolhimento para os filhos.
A sondagem da ATP incluiu grandes nomes como Somelos, Impetus e JF Almeida, bem como outras empresas de diferentes dimensões – A. Ferreira & Filhos, Fortiustex, Idepa, Paula Borges, A. Fiúza & Filhos, Elmate, NPB, Eigui, entre outras – reforçando um retrato transversal: no setor têxtil, a greve geral teve impacto quase nulo.