11 dezembro 25
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Bebiana Rocha

“Sem energia competitiva, Europa perde indústria todos os dias”

O vice-presidente da ATP, Mário Jorge Machado, participou esta manhã na conferência da Portugal Energy, realizada no Centro Cultural de Belém, dedicada a debater o papel da energia como motor de reindustrialização. Integrado no primeiro painel ‘Oportunidades da Indústria Existente’ sublinhou que, sem energia competitiva, a Europa continuará a perder indústria diariamente.

“Não há dificuldades tecnológicas, há dificuldades económicas. Passar de gás para eletricidade nas condições atuais significa quintuplicar os custos”, alertou, defendendo que a eletricidade deve chegar à indústria a um preço máximo de 40€/MWh. “Acima desse valor, não é possível descarbonizar”, afirmou, com base na experiência acumulada enquanto empresário.

Presidente também da EURATEX, Mário Jorge Machado, reforçou que a descarbonização é inevitável, mas está a ser conduzida num quadro que compromete a competitividade das empresas industriais. Recordou que o setor têxtil e vestuário, fortemente exportador, gera emprego e riqueza e é um dos poucos em que a Europa ainda mantém liderança.

Na sua intervenção, destacou ainda que as empresas querem avançar na transição energética, mas os custos continuam a travar o caminho. “A indústria tem processos fortemente dependentes da energia”, observou, apontando o exemplo das fiações e tinturarias, atividades altamente intensivas. “Todos os dias perdemos indústria na Europa. Não podemos falar de reindustrialização sem encarar esta realidade”, reforçou.

Segundo o responsável, a competitividade depende essencialmente de dois fatores: importações e preço da energia. Defendeu, por isso, “um controlo efetivo” da entrada de produtos que não cumprem os requisitos ambientais exigidos às empresas europeias.

“Pedem-nos para descarbonizar, mas a eletricidade chega à indústria a preços insustentáveis. Assim estamos a desindustrializar a Europa”, criticou, lembrando também a responsabilidade do consumidor que opta por produtos importados. “Se os produtos europeus forem sistematicamente mais caros, serão ultrapassados por alternativas importadas.”

Mário Jorge Machado deixou ainda uma nota sobre os licenciamentos, que considera demasiado lentos e impeditivos de novos investimentos: “Há empresas com projetos prontos no terreno, mas meses ou anos à espera do ‘ok’ da Administração Pública. A transição energética exige rapidez, não burocracia.”

Apesar dos desafios, destacou uma vantagem competitiva nacional: Portugal tem vindo a avançar significativamente nas energias renováveis, tanto solar fotovoltaica como eólica, registando já uma maior disponibilidade de energia limpa a preços mais competitivos.

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