12 setembro 25
Empresas

Bebiana Rocha

Rosa Pomar alerta para risco de perder autonomia na fileira da lã

O fecho iminente do lavadouro Tavares, o único lavadouro comercial de lãs em funcionamento em Portugal, está a pôr em causa a autonomia da fileira da lã nacional. Em entrevista ao T Jornal, Rosa Pomar, fundadora da Retrosaria, deixou um alerta contundente: “Estamos em risco de perder a autonomia de uma fileira têxtil na única fibra em que podíamos ser autossuficientes.”

A empresária sublinha a singularidade da lã no panorama nacional: “Conseguimos ir da matéria-prima ao produto final sem sair das fronteiras, não há mais nenhum caso na têxtil em que isso seja possível. Se estamos a fazer investimentos para processar linho, por que é que no caso da lã estamos a fazer o caminho contrário?”, questiona.

Num contexto de instabilidade internacional, Rosa Pomar defende ser urgente preservar a soberania desta cadeia produtiva. “Estamos a deixar cair esta hipótese de sermos autónomos. A lã sempre foi uma das nossas matérias-primas principais durante milénios. Estando as marcas interessadas na sustentabilidade e no luxo, esta matéria-prima é muito importante, assim como a sua certificação. É essencial termos capacidade para aumentar o uso de lã portuguesa.”

Segundo a fundadora da Retrosaria, a falta de homogeneidade entre lotes é um dos principais factores que levam as empresas a importar lã. A solução, defende, passa em parte por uma certificação nacional: “Temos de defender a lã portuguesa com uma certificação nacional. O que se passa neste momento é que, por não existir essa certificação, temos empresas que não conseguem provar que estão a comprar lã nacional. Os produtores também têm imensa dificuldade em certificar a sua matéria-prima. Devia haver uma certificação de raças autóctones portuguesas. Se esta certificação for feita pelas associações de produtores, vamos poder vender produtos com maior valor acrescentado. A pegada ecológica é um bom argumento para valorizarmos os nossos produtos.”

O lavadouro da zona centro está atualmente a funcionar em serviços mínimos, deixando Rosa Pomar sem alternativas imediatas: tem em armazém 15 toneladas de lã sem destino. “Lavar fora tem para as pequenas marcas um custo muito alto. Até ao final do mês tenho de tomar uma decisão. É preciso um plano urgente por parte das entidades do Governo para salvar este espaço ou conseguir que o lavadouro de Mirandela se torne uma alternativa viável”, defende.

A fundadora apela também a uma mobilização alargada: “O apoio tem de ir além do sector primário. Isto não é só um problema do sector primário, as produções artesanais e industriais vão ser impactadas. Os tapetes de Arraiolos e as mantas alentejanas vão deixar de ter lã portuguesa.”

Apesar das dificuldades, Rosa Pomar continua a apostar na inovação. Ontem lançou um novo fio — Matiz — feito exclusivamente com lã de raças autóctones, combinando Campaniça e Merino Preto. “O novo fio para malha é o resultado de anos de experiência e perseverança na produção de fios de lã portuguesa. É um fio de 100% lã, de espessura Aran, com uma textura suave e uniforme que resulta do processo de penteação. Após vários anos de investigação e desenvolvimento, realizámos este projeto em parceria com a única fiação nacional que apostou connosco na sua produção.”

A par do fio Matiz, este mês Rosa Pomar apresenta ainda uma nova peça pronto-a-vestir: um colete produzido a partir da lã de um único rebanho. “É de um produtor que se especializou em ovelhas com lã num tom café com leite. Comprámos toda a lã e fizemos uma edição especial”, conta em primeira mão.

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