Bebiana Rocha
Quadro jovens transformaram retalhos de burel e outros desperdícios de lã das empresas Burel Factory e Ecolã em peças de moda e arte têxtil, no âmbito das residências artísticas da Lãnd Wool Innovation Week. Os trabalhos estiveram expostos na Fábrica do Rio no passado fim de semana.
Susana Cereja fez a sua imersão na Ecolã, acabando depois por usar dois tipos de desperdícios para as suas criações: retalhos de burel pequenos e lã pura. “Há muito que vinha a querer trabalhar a lã pura, o que fiz foi pegar nas fibras mortas (restos de pentear a lã) e tentar unir as fibras novamente através de feltragem molhada”, explicou. Com uma agulha especial Susana conseguiu esculpir diferentes figuras, entre elas uma mão e um feto, que transmitem a ideia de renascimento. A jovem usou ainda pedaços de tecido de burel que cozidos se assemelhavam, em forma, a uma cobra ou a um percurso de água, que também se renovam. “Foi um desafio trabalhar novas técnicas, uma vez que vinha sobretudo de trabalhar tapeçaria de arraiolos”.
Carolina Batalha entrosou-se com os desperdícios da Burel Factory. A ideia inicial era explorar o quadriculado, usá-lo como um pixel e tirar partido das cores, mas o resultado final, por uma questão de tempo, foi na direção de um entrançado com as franjas dos teares. “As tranças são um gesto de cuidar, então peguei nas franjas todas enlinhadas e comecei a trançar”, explicou. Para dar um maior impacto à peça aumentou-lhe a escala e ficou uma estrutura têxtil suspensa em que os visitantes podem passar através dos seus fios.
João Xará, por sua vez, foi mais objetivo na abordagem aos desperdícios da Ecolã: começou por quantificá-los e usar os moldes da empresa para fazer novos coletes com sobras. Os pedaços reunidos não tinham medidas uniformes num primeiro ensaio, mas num segundo colete o jovem usou pedaços de burel, todos com a mesma forma e cor. “Fiz várias experiências para perceber contrastes de cores, tirei a gola e os bolsos dado que só tinha uma semana para concluir o trabalho” explicou-se, mostrando ainda experiências com botões e cabos de madeira.
Por último, Albio Nascimento apresentou duas mantas com efeito despenteado, feitas com desperdícios da Burel Fatory no Tear Porto, que tem mais de 100 anos. “O tear permitiu-me fazer mais coisas que um moderno”, assinalou. Os ensaios do criativo foram num primeiro momento para a aplicação do burel segundo os princípios da cestaria, Albio revelou inclusive que gostaria de fazer o cruzamento de madeira rachada com burel. As peças finais foram feitas em conjunto com um funcionário da empresa, que torceu o fio para uma das mantas à mão.