Ana Rodrigues
Já se sabe que a indústria têxtil é uma das mais poluentes do planeta. E também já se sabe que a resposta resultará numa mudança de paradigma na qual a indústria nacional está a deixar a sua marca, tanto no mercado interno quando internacionalmente. Um dos caminhos são os microrganismos.
O caminho começa a ficar mais claro e será uma “revolução movida por microrganismos que serão as fábricas do futuro”, afirmou Vítor Vasconcelos, presidente da CIMAR, com a RDD a assumir um lugar pioneiro em matéria de bactérias. Uma lição de alquimia que constou do primeiro episódio de uma reportagem da SIC intitulada ‘O que vamos vestir amanhã?’.
Ali, a importância da RDD Textiles esteve em evidência. Fundada em 2017 e exportando toda a produção para Inglaterra, Alemanha, Itália e França, a empresa sediada em Barcelos nasceu com um objetivo que se mantém: “inovar e desenvolver produtos mais sustentáveis”, salientou Bárbara Leite, diretora de Investigação da RDD.
Aliás, nos últimos anos, a RDD tornou-se a primeira empresa têxtil do mundo a demonstrar com roupa já no mercado que o uso de pigmentos produzidos por bactérias permite reduzir drasticamente a pegada de ambiental. Para tal contribui a sua parceria com a Colorifix, uma empresa de biotecnologia britânica pioneira nesta área.
Para além das fibras de desperdício de ananás e banana exibidos pela diretora de investigação, a RDD está apostada no tingimento de malhas através de bactérias e a poupança é clara: “cerca de 80% de produtos químicos e cerca de 77% de consumo de água” e redução significativa de consumo de energia.
Por exemplo: “Uma malha 50% algodão e 50% poliéster num processo de tingimento convencional demora cerca de 12 horas com dois processo de tingimentos e com o Colorifix demora cerca de uma hora e meia por um processo de tingimento”.
Nesse sentido, José Luís Queiroz, responsável do laboratório de cores da Tinturaria António Barroso Malhas (empresa que colabora com a RDD), enfatiza o quão revolucionário é este processo e como poderá mudar uma das indústrias mais poluentes do Mundo, destacando o quão importante seria se a RDD conseguisse tingir a cor preta através destas bactérias, pois “gasta mais corante, cerca de 8%. Em cada 100 quilos de malha gasta 8 quilos de corante”.
Para além disso, é importante dotar o consumidor de conhecimento. Carla Silva, diretora do Departamento de Química e Biotecnologia do CITEVE e coordenadora do projeto be@t, alertava para a importância dos consumidores conhecerem que as suas escolhas e gostos têm impacto: “as cores mais claras são mais sustentáveis”, mas também para voltar a cultivos do passado: como o linho e o cânhamo.
Em 20 anos o mundo duplicou a produção anual de têxtil e a roupa tornou-se cada vez mais descartável e quase 250 toneladas de roupa são descartadas todos os dias, mais de 90 milhões de toneladas por ano e Portugal “provavelmente o ecossistema têxtil mais importante da Europa” – afirma Ana Tavares, CEO da RDD – está, para Braz Costa (diretor geral do CITEVE), “na crista da onda”. Note-se o projeto be@t, o projeto de bioeconomia que já está a revolucionar a mudança de paradigma.