12 março 25
Política

Bebiana Rocha

“Que interessante seria se as empresas deixassem de pagar impostos até haver novo Governo”

A inesperada queda do Governo de Luís Montenegro, ocorrida ontem após a reprovação de uma moção de confiança no Parlamento lança novas incertezas para o sector têxtil e vestuário em Portugal. O T Jornal contactou a A.Ferreira & Filhos, a Carjor e O Segredo do Mar para recolher os efeitos imediatos que esta situação pode ter nas empresas.

“Hoje é um dia triste para Portugal”, começa por exclamar Honorato Sousa, administrador da empresa Carjor. “A classe política não esteve à altura do que as pessoas e as empresas esperam e necessitam. Com todos os problemas existentes a nível internacional criaram um problema ao país provocando a queda do Governo um ano depois de entrar em funções”, contextualiza.

Alertando que a previsão a médio e longo prazo é fundamental para investir e criar riqueza nas empresas – “o desconhecimento do que virá a seguir bloqueia as empresas e retrai o crescimento e investimento privado. Dizem que o Estado e as urbes partidárias consideram as empresas privadas malfeitoras e algo para abater, não acredito, mas que parece, parece”.

Honorato Sousa tocou ainda na questão da concorrência internacional, que já é desigual em termos de salários, de horas de trabalho, da regulamentação, ao qual passa a acrescer agora a instabilidade política e a falta de previsibilidade de futuro.

“Felizmente a qualidade dos empresários portugueses é muito superior à qualidade dos políticos portugueses e conseguiremos resolver os nossos problemas sem birras e sem estar parados um ano, para benefício de todos os que de nós dependem. Que interessante seria se as empresas deixassem de pagar impostos até haver novo Governo”, concluiu.

Noël Ferreira, da A. Ferreira & Filhos, partilha da mesma opinião de que a queda do Governo acentua o cenário de incerteza já sensível para o sector têxtil. “A indefinição quanto a investimentos, incentivos e fundos europeus compromete decisões estratégicas e trava o planeamento de médio e longo prazo”, partilha com o T Jornal.

Convicto de que as eleições eram dispensáveis e que a incerteza gerada é irresponsável, Noël Ferreira receia alterações legislativas e atrasos em processos críticos. Num último apelo, pede estabilidade para continuar a competir nos mercados internacionais. “O ruído desagradável dos partidos durante a campanha eleitoral não encanta ninguém!”, sumarizou.

José Cardoso, administrador d’ O Segredo do Mar prefere adotar um discurso de que o verdadeiro impacto da situação depende da capacidade de adaptação das empresas. “O sector têxtil e vestuário enfrenta desafios há décadas, e a volatilidade política é apenas mais uma variável num cenário global extremamente competitivo”, diz.

“As previsões económicas para Portugal continuam positivas, com crescimento acima da média europeia e desemprego controlado. O foco deve estar no que podemos controlar: inovação, resiliência e estratégia”, profere, não deixando de reconhecer que existem riscos associados à queda do Governo.

No curto prazo aponta os eventuais atrasos em incentivos à modernização e sustentabilidade, impacto na confiança dos investidores e a estabilidade regulatória. Para terminar, José Cardoso defende que o próximo Governo deve tomar ações concretas no sentido de ter políticas mais estáveis, incentivos reais à inovação e sustentabilidade, apoios à internacionalização e investimentos na qualificação da mão de obra.

“Portugal tem vindo a reforçar o seu papel na Europa através de uma combinação de liderança institucional, políticas inovadoras e diplomacia ativa, contribuindo para a evolução da UE. O STV é um dos motores dessa projeção, elevando a reputação do país nos mercados internacionais. Para que essa posição se consolide, é essencial que a política económica acompanhe essa ambição, garantindo um ambiente favorável ao crescimento e inovação”, fecha.

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