Bebiana Rocha
A Águas do Norte organizou ontem, no Centro de Estudos de Camilo Castelo Branco, em Vila Nova de Famalicão, uma sessão dedicada à importância da água enquanto recurso essencial e finito, destacando a necessidade da sua gestão eficiente. “Sustenta-Habilidade à Moda do Norte” reuniu representantes de várias entidades e sectores de atividade, contando com a participação da indústria têxtil e de vestuário, reconhecida como utilizadora intensiva deste recurso.
A mesa-redonda “O uso sustentável da água” contou com a presença de Manuel Gonçalves, em representação do Grupo TMG, e de Mário Jorge Machado, presidente da EURATEX e vice-presidente da ATP – Associação Têxtil e Vestuário de Portugal. Aos quais se juntaram também: Rui Ferreira, CEO do Super Bock Group, Rui Correia, CEO da Sonae Arauco, e Luísa Amorim, CEO Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo e Taboadella.
Manuel Gonçalves partilhou exemplos concretos das melhorias implementadas pelas empresas do grupo em matéria de sustentabilidade, destacando certificações obtidas, pactos assinados e a aposta numa gestão focada nas pessoas e na utilização eficiente dos recursos.
Numa vertente mais abrangente, referiu a aposta na descarbonização e na preparação tecnológica para que, quando ocorrer, por exemplo, a transição das caldeiras a gás natural para caldeiras elétricas, esta se dê sem constrangimentos. Sublinhou ainda a procura por processos mais limpos e por soluções químicas sustentáveis: “Na área automóvel procuramos muito biopolímeros pelo destino de fim de vida que lhes podemos dar”, referiu.
A digitalização foi outro ponto salientado, com a empresa a recorrer à inteligência artificial para análise de dados não estruturados, permitindo extrair conclusões relevantes. Um dos exemplos apresentados foi a avaliação das formulações utilizadas nos processos produtivos para identificar semelhanças e agrupá-las, reduzindo perdas associadas aos set-ups iniciais e finais, seja de PVC ou de outros materiais. “A sustentabilidade é também uma questão de rácio económico”, concluiu.
Já Mário Jorge Machado aproveitou para reforçar a necessidade de a Europa assegurar condições de competitividade às empresas. Defendeu políticas públicas com visão integrada e alertou para a urgência de nivelar o “terreno de jogo” entre produtores europeus e países terceiros: “Quem produz cá tem umas regras e os países terceiros têm outras. Importamos produtos com maiores consumos de água e pegada de carbono do que os que são produzidos na União Europeia.” E acrescentou: “Se não houver sustentabilidade económica, não haverá mais nenhuma.”
O responsável partilhou também o trabalho desenvolvido pela ATP junto de diversas entidades nacionais e internacionais. Referiu a recente reunião com a APA para discutir a resiliência do sector e o encontro com Jessica Roswall, comissária europeia, onde foi abordada a temática da resiliência hídrica e o controlo dos pacotes de encomendas de baixo valor: “Ter um bom objetivo não significa destruir a competitividade da Europa”, alertou, insistindo na necessidade de alinhar legislação, regulamentação e incentivos ao investimento industrial.
Mário Jorge Machado lembrou ainda a importância de inverter o processo de desindustrialização e reforçar a autonomia estratégica europeia, recordando o exemplo da pandemia. Destacou por último, numa vertente de empresário, que a Adalberto consome atualmente três vezes menos água do que há uma década, apesar de os processos continuarem a exigir volumes relevantes.
Na mensagem final, Manuel Gonçalves apelou a uma maior agilidade por parte das entidades públicas nos processos de licenciamento: “Pior do que o ‘não’ é a falta de resposta. É necessária uma visão mais holística.”
Mário Jorge Machado acrescentou que vivemos hoje um movimento de proteção de fronteiras “totalmente diferente de há cinco anos” e apelou à abertura das entidades públicas às propostas do sector e à simplificação de procedimentos. “O Clean Industrial Deal inclui a palavra ‘competitividade’ porque há essa preocupação no Parlamento Europeu. Ainda não sabem como avançar, mas aceitam sugestões. Cabe às associações apresentar soluções.”