11 agosto 17
Moda

Jorge Fiel

Pure Cotton: o importante são as marcas

Dominar toda a cadeia de produção é o objetivo do investimento industrial de 1,5 milhões de euros que a Pure Cotton tem em curso em Vila Frescaínha, Barcelos.

A primeira fase, já concluída, contemplou um investimento de 700 mil euros, entre obras e maquinaria, numa linha de produção onde trabalham 16 pessoas e está dedicada ao fabrico de protótipos e coleções, sendo também usada para satisfazer pequenas encomendas.

Na segunda fase, será acrescentada estamparia à tecelagem – e a logística e o departamento comercial mudam-se para as instalações industriais, que serão ampliadas para o efeito.

Concluído este investimento industrial, o essencial dos recursos e esforços da Pure Cotton vão ser canalizados para a construção e expansão das suas marcas próprias – Inimigo Clothing e French Kick.

“Não queremos crescer mais na produção. Crescer vai ser nas marcas. Com a atual estrutura vamos multiplicar três ou quatro vezes o volume de negócios”, prevê Hélder Brito, um dos três sócios (os outros são Rui Costa e Rickie Madsen) da Pure Cotton.

Fundada em 2011, em plena crise das dividas soberanas e com a troika em Lisboa, a Pure Cotton começou com o pé esquerdo, sendo obrigada a ficar com a marca (Chico Clothing, uma marca antiga de streetwear, com boa presença online) de um cliente alemão de Colónia que ficou sem dinheiro para pagar as colecções que a empresa portuguesa já lhe fornecera.

Mas no ano seguinte a Pure Cotton já estava cheia de trabalho e saía da crise a todo o vapor, com a facturação a quase triplicar, dos 800 mil euros, em 2012, para 2,1 milhões, em 2013.

No final do corrente exercício, o grupo deverá atingir um volume de negócios de 9,5 milhões de euros, sendo que deste montante as vendas de marcas próprias deverão rondar os dois milhões de euros, ou seja um pouco mais de 20% do total.

“O nosso objetivo é fazer 50% da faturação nas marcas. Sabemos que vai demorar algum tempo a acontecer, mas não temos dúvidas de que estamos no caminho certo.”, explica Hélder, 35 anos.

A Inimigo Clothing nasceu em 2013, como uma evolução natural da coleção mostruário que a Pure Cotton fazia para apresentar aos clientes de private label.

Ao contrário da mãe (Pure Cotton), a Inimigo nasceu com o rabo virado para a lua. Logo na primeira feira em que esteve, a Magic, em Las Vegas, apesar da má localização do stand (“Estávamos quase dentro da casa de banho”)  Hélder trouxe 100 mil US dólares de encomendas.

“Os Estados Unidos são um mercado com um enorme potencial, onde a Inimigo já faz 60% das suas vendas”, reconhece Hélder, acrescentando: “A Inimigo Clothing é uma marca para o segmento médio/alto e por isso não é barata, Mas mesmo nas peças básicas usamos malhas de algodão supima, o melhor que há no mercado, fazemos estampados a 12 cores e caprichamos em todos os detalhes, como as etiquetas metálicas. Pomos lá tudo!”.

A Inimigo tem uma loja própria em Braga, que é encarada como um investimento em marketing – uma montra onde tem exposta toda a colecção da marca.

“Nestes quatro anos, fizemos os erros todos de seguida. Aprendemos que não chega fazer feiras. É preciso escolher criteriosamente os alvos, disparar tiro a tiro e não de rajada. Com a Inimigo, além dos EUA, estamos na Holanda, França e Portugal. Há mercados onde ainda não entramos, como o italiano, onde, apesar dos tradicionais problemas de pagamentos, achamos que a marca vai resultar bem. Quando formos para lá é para ser a sério. É para ficar”, afirma o administrador da Pure Cotton.

Apesar da aposta nas marcas, em particular na Inimigo, a Pure Cotton não vai negligenciar o private label – apenas vai ser mais exigente. “Vamos escolher os clientes. Há cinco anos não tínhamos mínimos. Há dois anos os nossos mínimos eram 300 peças pro cor. Agora são 500”, conclui Hélder Brito.

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