Bebiana Rocha
Os expositores portugueses chegaram à Première Vision Paris com expectativas moderadas, mas o arranque da feira tem superado o cenário antecipado. Ainda assim, a edição mostra-se mais pequena, com menos visitantes e um público maioritariamente europeu. Logo à entrada, o espaço dedicado a deadstocks concentra atenções e ofusca os desenvolvimentos de raiz apresentados pelas empresas – um contraste com o tema central da edição, focado em tecnologia e inovação. Soma-se a este contexto uma concorrência asiática cada vez mais feroz, que se faz sentir em todo o recinto.
Na Magma Têxtil, o primeiro dia foi considerado “surpreendentemente positivo, com bastante afluência” ao stand, tanto de marcas já conhecedoras da empresa como de novos clientes. “As reuniões agendadas cumpriram-se”, destacou Joana Guimarães, confiante de que o movimento se mantenha.
A presença de várias amostras no Fórum de Tendência tem funcionado como chamariz, entre elas: uma malha crepe com mistura de algodão orgânico e seacell; uma malha 100% lyocell com toque e cair “excecionais”; um fio chenille com a argola como frente da malha; um peluche inspirado na bombazine em navy; um rib largo com toque quente e verificação GOTS; e ainda uma felpa com desenho de espinha com linho.
Já a LEMAR reporta um primeiro dia com fluxo regular de clientes, embora sem a afluência máxima esperada face à dimensão da feira. A empresa recebeu sobretudo clientes franceses e alguns estrangeiros, mas no total realizou menos reuniões do que na edição anterior.
Ainda assim, a participação da LEMAR nos fóruns da PV, com quatro amostras em destaque, tem despertado a curiosidade dos visitantes e levado muitos ao stand. Entre essas propostas, encontram-se novidades que Flávio Dias já havia salientado na The London Textile Fair, como o artigo 167/15, uma sarja pesada feita com poliéster reciclado e algodão orgânico, e o CHRYSANTHEMUM, desenvolvido com fios SEAQUAL e T400 ECOMADE.
A Vilartex também sublinha um arranque muito positivo. Para Manuel Ribeiro, “o dia de ontem correu muito bem, foi o melhor dos últimos anos”, e a expectativa é que esta quarta-feira mantenha o ritmo, apesar das dificuldades nos transportes.
A empresa levou ao certame “um pouco de tudo”, desde as tendências como pêlos e merinos até aos básicos, com estruturas e pesos diferentes. A Vilartex tem nove produtos selecionados para o fórum e beneficiou da localização estratégica “na passagem principal entre o hall 5 e o hall 6”, o que resultou num stand sempre cheio.
“Vê-se menos pessoas no corredor e mais dentro dos stands. Notam-se mais espanhóis e também mais americanos, que nos visitam aqui porque a coleção é maior do que, por exemplo, a que apresentamos em Nova Iorque”, explicou. Apesar do otimismo, alerta que o dia mais difícil poderá ser amanhã, devido à greve convocada.
A TMG Textiles marca presença nesta edição com o objetivo de afirmar uma posição de força. “As expectativas não eram altas, mas assumimos o compromisso e surpreendeu-nos. O dia de ontem foi muito positivo, tivemos tanto a visita dos nossos clientes como de novos. Hoje a manhã refletiu exatamente o mesmo”, resume Pedro Silva. Destacando que a PV acabou por ficar mais curta um dia, explica que os clientes anteciparam as visitas e sublinha que 90% dos visitantes que passaram pelo stand eram europeus.
Com várias amostras em exibição nos fóruns de tendências e inovação, a TMG Textiles aposta sobretudo em artigos na área dos reciclados e materiais nobres – como o liocel de bamboo – e em artigos core com funcionalidades, como a repelência. “O objetivo é trazer a parte técnica para a moda, e isso tem causado impacto nas visualizações do fórum. Continuamos a nossa jornada de materiais nobres, para que cada vez mais seja esse o ponto do nosso reconhecimento”, afirma o R&D Manager.
A empresa aproveitou ainda a feira para partilhar o seu primeiro relatório de sustentabilidade, um documento que “deu muito trabalho” a preparar, mas que transmite com clareza as boas práticas e a estratégia da TMG nesta área.
“O mercado olha muito para a sustentabilidade e rastreabilidade, sobretudo o mercado francês, que se preocupa com as proveniências, e pode encontrar toda essa informação transformada num relatório oficial, com coerência de informação.” O documento tem sido bem recebido e tem gerado discussões saudáveis em torno da sustentabilidade e do papel de Portugal neste campo.
Já a Matias & Araújo sente esta edição mais pequena e com menos contactos. Carla Silva, responsável comercial, destacou que o primeiro dia foi “agradável”, mas marcado sobretudo por visitas de clientes já conhecidos, vindos maioritariamente de Itália, França, Alemanha, Inglaterra e Bélgica.
A coleção apresentada foca-se no mercado médio-alto e aposta em matérias-primas nobres como lã, caxemira e seda. “Temos todo o tipo de malhas e jacquards, o curpo também é uma das nossas especialidades, para além das felpas”, frisou.
Na Penteadora, o arranque “surpreendentemente correspondeu às expectativas”. Apesar de a feira decorrer numa fase tardia, os clientes surgiram à procura de produtos específicos e de avanços da estação. “As coleções estão quase fechadas, mas conseguimos corresponder a pedidos e até analisar já propostas de meia estação”, adianta a empresa, que apresenta como grandes destaques duas novas gamas – casacos heritage e fatos saxony – em pura lã.
A Penteadora tem cinco tecidos selecionados no Fórum Citywear, que permitem looks modernos e sofisticados, valorizando as propriedades da lã. “Temos uma expectativa otimista para a estação”, concluem.
Já a Soeiro faz um balanço mais moderado, admitindo que recebeu menos visitantes do que na última edição. Para a empresa, a redução da afluência explica-se pela coincidência com a feira Texworld, pelos custos e pela própria organização.
“A Première Vision tem uma plataforma para marcar reuniões, mas uma parte dos clientes não compareceu. Tivemos muitas marcas pequenas, startups”, resume a empresa, que apela ainda a uma maior proximidade entre expositores portugueses em futuras edições, como forma de reforçar o destaque do made in Portugal.