06 fevereiro 23
Sustentabilidade

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“Precisamos de investir muito na imagem de Portugal como centro de produção sustentável”

Mário Jorge Machado, presidente da ATP, diz que é urgente reforçar internacionalmente a imagem da ITV portuguesa como uma fileira comprometida com a sustentabilidade e a economia circular. “Temos que valorizar todo este esforço que as empresas estão a fazer para esta transformação”, considera.

Que importância atribui ao projeto Sustainable Fashion From Portugal?

Altíssima importância. Um dos grandes fatores de diferenciação da promoção de Portugal é assumir-se como produtor sustentável, que já somos de facto mas estando num processo de transformação para sermos ainda mais sustentáveis e mais circulares. Se não promovermos todo este esforço que as empresas estão a fazer em termos de tecnologia, em termos de pessoas capacitadas para esta transformação, corremos o grande risco de não sermos valorizados internacionalmente por todo este esforço que está a ser feito.

Entende que o sector já fez tudo o que devia para impor essa faceta?

Estamos ainda muito longe. Precisamos de investir muito na imagem não só do sector como também de Portugal como um dos locais do planeta onde se produz a melhor qualidade de forma mais sustentável. Precisamos de investir na imagem de Portugal como centro de produção sustentável. Há ainda uma diferença enorme entre a realidade daquilo que somos em termos de indústria e aquilo que estamos a investir na promoção daquilo que somos.

Em termos práticos, o que importa fazer?

Precisamos de insistir naquilo que temos vindo a fazer: aquilo que é mostrar nos principais eventos e nos principais certames internacionais os produtos que estão a ser feitos em Portugal. E também precisamos de criar eventos nalguns países – nomeadamente no mercado norte-americano, nos mercados escandinavos – para chegar às principais marcas e aos principais criadores, mostrando-lhes aquilo que estamos a fazer.

Essa perspetiva encaixa numa das estratégias do Portugal 2030?

Exatamente. Para além das participações em eventos, nós próprios temos que criar eventos e dar a conhecer aquilo que o têxtil português está a fazer em termos da sustentabilidade.

A União Europeia também tem uma estratégia para o têxtil, é um bom plano?

Se forem implementadas as diretivas que estão a ser desenhadas – e a Euratex está a fazer parte da discussão –, o plano vai ser uma grande oportunidade para o sector têxtil e do vestuário europeu, nomeadamente para o português. Porque vai obrigar a que o terreno de jogo fique nivelado: quem quiser vender na Europa vai ter de cumprir as esmas regras de produção em termos de sustentabilidade e transparência que as que cumprem as empresas europeias. A própria Comissão Europeia já admitiu que temos de deixar de ser ingénuos, não podemos permitir que tenhamos regras para não sermos poluentes e ao mesmo tempo permitir que outros sejam poluentes.

O têxtil português teve uma excelente performance em 2022 nomeadamente na frente das exportações. O que motivou este desempenho?

Temos de separar o ano em duas partes: uma primeira fase de 2022 que, essa sim contribuiu para o crescimento, e uma segunda fase do ano em que o crescimento já foi muito reduzido. Nesta segunda fase notou-se o impacto da guerra e da inflação na retração da procura. Daí não estarmos a celebrar o valor das exportações porque estamos a passar uma conjuntura onde há uma diminuição forte do lado da procura, com empresas a terem de diminuir o seu número de dias de laboração. Não há procura para trabalharem, não há encomendas para todos os dias da semana.

Nesse quadro, o que antecipa para 2023?

O que se consegue antecipar com alguma lucidez é que os primeiros meses vão ser bastante difíceis em termos de procura. A expectativa é que, durante 2023, a situação comece a melhorar, quer porque a inflação começa a ser controlada e o preço da energia comece a diminuir, quer porque haja um fim para a guerra. Estes três fatores vão permitir que aquilo que houve de positivo em 2022 possa ter continuidade no segundo semestre de 2023. Temos de esquecer um segundo semestre de 2022 e o primeiro de 2023: um ano perdido.

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