T91 - Março/Abril 24
Entrevista

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“Portugal vai ser cada vez mais relevante para o mercado escandinavo”

Foi convicto que o mercado escandinavo vai procurar cada vez mais o ‘made in Portugal’ que o comprador sueco Emil Pettersen conversou com o T Jornal. Rodeado pelos tecidos mais sustentáveis da Lemar, demonstrou o seu apreço pela flexibilidade e proximidade geral à indústria têxtil portuguesa.

 

Como chegou até às empresas portuguesas? Que qualidades encontra em Portugal? 

Durante anos trabalhei com grandes produtores de têxteis na Escandinávia, fartei-me porque íamos à China comprar os tecidos e produzíamos no Bangladesh. Fazíamos tudo barato e de forma não sustentável. Despedi-me e disse que queria criar um projeto próprio apenas com têxteis sustentáveis. Em Portugal tem-se bons fiadores, bons tecelões e bons confecionadores, para além de tornar possível a produção de pequenas quantidades. O produto é mais caro, mas é também mais exclusivo, quando a etiqueta diz ‘made in Portugal’ toda a gente sabe que é controlado do ponto de vista não só ambiental como de mão de obra, é mais fácil defender também o meu markup. 

 

Há quantos anos trabalha com a ITV portuguesa? 

Há cerca de quatro anos, comecei como um pequeno produtor na Suécia e liguei a vários fornecedores a pedir seis metros de tecidos, todos diziam que não trabalham com essas quantidades, até que liguei para a Lemar e mostraram-se disponíveis para os mínimos que precisava. Além disso eram fornecedores de tecido Seaqual, uma condição importante para mim. Estabelecemos uma excelente ligação de cooperação, três meses depois recebi convite da empresa para ser agente deles na Escandinávia, um convite que aceitei, sendo que agora faço a feira na Escandinávia duas vezes por ano. 

 

Que projetos tem neste momento em calha que envolvam os parceiros portugueses? 

Este ano, em parceria com a Origin Solutions, fizemos uma apresentação para o maior parque aquático em Gothenburg, a segunda maior cidade da Suécia. A Reparell ficou encarregue de fazer a produção das fardas para os funcionários. Todos os tecidos são portugueses, assim como a produção. Vários dos coordenados são feitos com sobras, por exemplo, precisavam de casacos para usar no exterior fizemos com leftovers de tecidos. O que cativou a organização para escolher a minha empresa e não outra foi precisamente ser português e certificado. Compraram-nos mesmo sendo os mais caros porque é sustentabilidade portuguesa, design português.

 

Quando avança o fornecimento das fardas? Ainda será este ano?

Infelizmente, a um mês do parque abrir, o edifício foi consumido por um incêndio e tivemos de colocar em standby o fornecimento. Neste aspeto, quando liguei aos parceiros portugueses a explicar a situação foram todos meus amigos e fizeram um ‘refund’. Tanto a Lemar como a Troficolor foram compreensivas, considero-os amigos. Estou a tentar de momento preencher a produção de uma empresa de confeção para não terem de parar oito semanas. Tenho feito uso dos meus contactos na Suécia para que a empresa não sai prejudicada.

 

O incidente não fez com que deixasse de vir ao Modtissimo. O que achou do único salão têxtil português? É a primeira vez? 

Não, é o terceiro ano que visito a feira. Na verdade, trabalho em conjunto com o AICEP na Suécia. Há empresas portuguesas nas quais fico interessado todos os anos, apesar de não serem produtores do tipo de artigos que preciso. Por exemplo, gostei muito de estar à conversa com o produtor de fatos da Pier Lourenzo, o Carlos Costa da José Pinto Cardoso. Acredito que quanto mais pessoas conseguir ‘ajudar’ em Portugal mais pessoas me vão ajudar a mim. Noto também que Portugal vai ser cada vez mais relevante para o mercado escandinavo pela preocupação com a sustentabilidade social e ambiental. 

 

O que o trouxe ao Modtissimo? 

Tenho uma marca própria de roupa corporativa na Suécia, chama-se Reparell, é feita com resíduos retirados dos oceanos, maioritariamente de fio Seaqual que adquirimos da Lemar. Venho à feira para reunir com parceiros como José, conhecer as novidades da estação e encontrar novos potenciais fornecedores. 

 

Já fez outros contactos dentro da indústria têxtil portuguesa? 

Sim, todos os meus artigos são feitos de tecidos portugueses. A produção é totalmente portuguesa também. Usamos, por exemplo, cordura, bombazine e gangas da Troficolor para criar coordenados e Tencel da 6Dias Têxteis.

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