09 outubro 25
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Bebiana Rocha
Imagem: Mastershot

Pode a Europa Manter-se Forte e Limpa? EURATEX responde

A Europa está numa encruzilhada. Enquanto a Ásia intensifica o envio de encomendas para o continente, a indústria têxtil europeia enfrenta desafios complexos que vão desde a concorrência desleal até à necessidade de inovação contínua. Foi este o alerta lançado ontem na abertura da The Textile Institute World Conference, numa intervenção de Mário Jorge Machado, presidente da EURATEX, com o mote: “What future for our industry?”.

“Somos sonhadores, investigadores e empresários. Estamos a fiar o futuro”, começou, lembrando que a resiliência e o esforço constante são essenciais para que a Europa mantenha a sua relevância industrial. Ao longo do discurso, lançou perguntas provocadoras ao público, como: “Vai a Europa continuar a produzir ou só vamos consumir o que os outros produzem?” e “Se a inovação está no ADN, porque é que deixamos os outros decidirem o nosso destino?”. Questões que desafiam não apenas o setor têxtil, mas o próprio modelo económico europeu.

Mário Jorge Machado chamou a atenção para o aumento das importações asiáticas e para as práticas de concorrência desleal que comprometem a sustentabilidade e a competitividade da Europa, apontando para problemas como segurança, propriedade intelectual e regimes fiscais injustos.

“A situação é de guerra”, afirmou, alertando que manter uma indústria limpa e ética não é incompatível com ter uma indústria forte. “Pode a Europa continuar a ser limpa num mundo sujo?”, questionou, defendendo a necessidade de uma revolução industrial capaz de unir sustentabilidade e competitividade.

A EURATEX, frisou, desempenha um papel crucial nesse processo: “As associações têm um papel importante – lidam com quem faz as leis. A confederação tem promovido diálogos concretas sobre os temas da reciclagem, da economia circular e da necessidade de  definição de estratégias ajustadas à realidade do terreno. Regulação sem competitividade é suicídio lento”. A preservação da indústria europeia, alertou, depende de investimentos estratégicos, adaptação tecnológica e políticas que tornem as empresas mais competitivas.

“Pode a Europa ser líder moral da sustentabilidade se as empresas desaparecerem?”, questionou de seguida, reforçando que a sobrevivência do setor passa também por aproveitar ferramentas como a inteligência artificial, por reconverter trabalhadores e por garantir cadeias de fornecimento resilientes. Trouxe exemplos concretos, como a nova unidade piloto de triagem têxtil da LIPOR, evidenciando que a produção de fibras e a reciclagem serão pilares fundamentais para manter a indústria no continente.

Mário Jorge Machado sublinhou ainda a necessidade de atrair e reter talento, apostar no reskilling e envolver o design na criação de peças mais ecológicas, pensadas desde o início para o seu fim de vida. A intervenção terminou com um apelo à responsabilidade coletiva: “Vai a Europa mudar a fórmula ou vai ser moldada?”. E concluiu com uma imagem poderosa: “No final, não trabalhamos nos têxteis apenas, tecemos o futuro da Europa. A Europa importa e é importante fazermos com que assim se mantenha”.

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