02 abril 25
Empresas

Bebiana Rocha

Pedrosa & Rodrigues fala sobre o uso da robótica em operações parcelares

Miguel Rodrigues, Corporate Manager da Pedrosa & Rodrigues, esteve no primeiro episódio do novo podcast do projeto Texp@ct para falar sobre como a automação e a robótica podem ser implementadas na indústria têxtil e vestuário. Durante a conversa partilhada com Gil Sousa da ESI Robotics e Nélson Rodrigues do CITEVE, Miguel falou sobre a importância de criar ferramentas flexíveis que sirvam para acomodar diferentes tipos de encomendas.

“Enquanto no setor automóvel o perfil produtivo é mais estável, no caso da moda é diferente. Num ano normal fazemos mais de 1200 artigos diferentes, em 17 categorias de produto distintas, numa quantidade média de 600 unidades. Um desenvolvimento ou é flexível para acomodar ou não é viável financeiramente”, disse. “Pode fazer sentido criar soluções para operações específicas em vez de uma que faça a peça completa”, concretizou, dando o exemplo de uma carcela de polo, que é difícil de fazer e depende da qualificação individual da costureira.

Ao ser desenvolvida uma solução que automatize esta operação, resolvem-se pelo menos dois problemas: a falta de recursos humanos, uma vez que neste momento é mais fácil contratar para operações mais básicas de confeção, além de garantir que os resultados em termos de qualidade são mais consistentes. A Pedrosa & Rodrigues tem procurado investir ativamente na automação do chão de fábrica. Para além da habitual automatização no corte, conta com um sistema de logística avançado que transporta o excedente de corte no momento em que é gerado para a separação, sendo depois feita a organização por composição, cor e ordem de produção.

As movimentações de cargas também já usam tecnologias que interligam ordens e movimentos do AMR com o fluxo produtivo, assim como o planeamento é feito de forma automática com base num histórico. “Temos fluxos integrados por agente funcional que entrega, pessoa a pessoa, a sua lista de tarefas já priorizada, já acomodando as precedências”, continua, salientando os ganhos de eficiência e a libertação de capacidade. Por último, dá o exemplo de um sistema de qualidade digital, que controla as áreas que têm maior probabilidade de apresentarem problemas.

“O que faz sentido são pequenos saltos onde vamos afinando a direção para o salto seguinte; será uma questão de tempo”, conclui Miguel Rodrigues, chamando a atenção de que todos são stakeholders num projeto de automação. “Quando vamos começar um projeto, temos de levantar requisitos, temos de ser rigorosos no mapeamento dos processos. Quando há processos novos, obriga a transformar outros, e precisamos que as pessoas façam essa mudança connosco. O envolvimento de todos é fundamental, incluindo o lado dos fornecedores. Os parceiros têm de estar embebidos na mudança.”

Gil Sousa, da ESI Robotics, centrou a sua intervenção nas especificidades do setor têxtil e vestuário, nomeadamente a maleabilidade dos tecidos. “É difícil manipular um tecido que é flexível. Neste momento, onde existe mais automação é nos tecidos técnicos, nos tecidos para o setor automóvel, nos couros”, disse. A área de embalagem é a mais fácil para se implementar este tipo de soluções. No entanto, o processo de costura ainda necessita de muita investigação e desenvolvimento, que admite já estar em curso.

Fazer a troca de ferramentas de forma automática também é outra das possibilidades que a ESI Robotics está a estudar. No final, a digitalização vai trazer também uma maior sustentabilidade às empresas, garante. “A sustentabilidade tem de ser vista de forma holística. Quando temos uma paragem não programada, vamos parar toda a linha de produção. Vamos ter custos que, se aplicássemos a manutenção preventiva, conseguiríamos evitar. A uniformização do produto também faz diferença, gera menos rejeitados, evitando desperdícios. Devemos focar-nos onde há mais valor, onde é que o recurso humano tem mais dificuldade.”

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