11 janeiro 23
Feiras

T

Pedro Cilínio transformado em Muro das Lamentações

Atrasos na aprovação dos PRR de descarbonização e de projetos do Portugal 2030; apoios insuficientes à catástrofe provocada pelos brutais aumentos do preço do gás; a necessidade de rever os critérios da dimensão na concessão de apoios e de desencadear campanhas de comunicação da imagem da indústria (e do país) a nível internacional – eis, em resumo, as lamentações que Pedro Cilínio, o novo secretário de Estado da Economia tem ouvido das empresas na visita que está hoje a fazer aos 67 stands portugueses presentes na Heimtextil, em Frankfurt.

Neste seu batismo do fogo, Cilínio tem optado prudentemente por ouvir mais e falar menos –   e não poupar nos elogios ao que vê: “É bom saber, confirmar, que o setor está pujante”.

“É visível o upgrade na qualidade dos nosso produtos”, reconheceu o secretário de Estado no Fórum de Tendências, onde manifestou uma admiração pelo conceito: “Isto no fundo é uma espécie de catálogo”.

“O fórum é uma oportunidade para os visitantes saberem muito rapidamente o que Portugal faz bem, um hub já que cada uma das 400 amostras disponíveis tem a informação sobre a empresa que a fez e a localização do stand na feira”, explicou Mário Jorge Machado, presidente da ATP.

Agradado com a ideia do mundo de pernas para o ar expressa no fórum pela cama fixada na parede do stand e virada ao contrário, Cilínio foi rápido na produção de uma metáfora: “O mundo é o mesmo mas temos de mudar a perspetiva com que o olhamos”.

A questão da aprovação da candidatura da Seletiva Moda aos apoios à internacionalização (um total de cerca de 80 ações, na sua esmagadora maioria relativos à participação em feiras), apresentada em outubro no âmbito do Portugal 2030, foi o tema do conversa do secretário de Estado com Manuel Serrão.

A data inicialmente prevista para a tomada de decisão derrapou com a prorrogação de dezembro para o final de janeiro da apresentação das candidaturas, mas Cilínio garantiu que o mais tardar em março haverá novidades.

Relativamente aos atrasos na aprovação dos PRR da descarbonização, agendada para novembro, o secretário de Estado prometeu que em fevereiro estará concluído o processo de avaliação.

“Tivemos que parar a tinturaria porque não conseguíamos aguentar os custos da energia”, contou Jorge Lopes, da Belfama. “Estamos a passar um mau bocado e não há maneira de serem aprovados os dois PRR que metemos”, afirmou Fátima Antunes, da Lasa.

“Os nossos custos com o gás aumentaram 625% no ano passado. É impossível fazer repercutir nos preços um aumento desta dimensão. Se o fizéssemos quando o preço do gás baixasse já não tínhamos clientes”, afirmou Simão Gomes da Sampedro, empresa que está a comemorar o seu centenário.

No stand da Felpinter, em conversa com Rui Teixeira – o CEO da empresa que antecipa uma recessão, provocada pelos efeitos no consumo da inflação – , o secretário de Estado declarou-se favorável à moderação demonstrada pelo Banco Central Europeu na subida das taxas de juro: “Não podíamos correr o risco de matar o doente com o remédio”.

“A Alemanha boicota qualquer alteração no critério da dimensão”, respondeu Cilínio quando Fátima Antunes se queixou do facto da Lasa estar inibida de receber apoios na sua participação em feiras por empregar 700 trabalhadores nas três empresas autónomas que integram o grupo.

“Eu ainda sou do tempo em que havia excursões para visitar a Heimtextil e saímos daqui cheios de encomendas. Agora só vêm compradores e que levamos para casa são expectativas. Mas não podemos deixar de estar aqui”, contou Fátima Sousa, da Domingos Sousa, dando oportunidade para o secretário de Estado expor o seu pensamento sobre as feiras: “Temos de estar atentos a todos os canais. Dantes as feiras eram obrigatórias. Agora são importantes mas há outros canais”.

“A realidade tem-se encarregado de destruir as expectativas negativas” – é esta a mensagem de otimismo e esperança que Pedro Cilínio, está a pregar em Frankfurt.

Partilhar