13 novembro 19
Internacionalização

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Paulo Vaz: têxteis brasileiros podem replicar sucesso luso

Inovação tecnológica, design, serviço e uma presença cada vez maior nos mercados internacionais. São estes os ingredientes cuja mistura determinou o sucesso do setor têxtil e do vestuário português, e que o diretor-geral da ATP, Paulo Vaz, que participava na Febratex Summit, em Blumenau, Brasil, levou a o conhecimento do maior país da América do Sul.

Em boa hora, segundo as notícias vindas do Brasil: o caso português revela semelhanças com o mercado têxtil brasileiro que vão além da língua. No Brasil, a influência da produção chinesa no setor desestabilizou muita da indústria local, ainda antes do advento do novo século. As consequentes mudanças no modelo de negócio das empresas brasileiras foi profunda e obrigou à reconversão, sob pena de desaparecimento.

A saída da crise o buraco passou pela diferenciação, explicou Paulo Vaz: “deixámos de ter um modelo baseado na eficiência e no preço para ter um modelo mais focado no valor”. Foi esta opção que originou uma singular forma de abordagem do mercado, que se caraterizou pela construção de um cluster capaz de responder de forma vertical a todas as demandas provenientes dos clientes internacionais. Em Portugal, o grande comércio encontra uma economia de escala que em pouco tempo se revelou capaz de fazer frente aos mercados emergentes – que, cada um se sucedendo ao anterior, não deram o passo para além da resposta pelo preço.

O setor, recordou Paulo Vaz, firmou uma espécie de pacto informal com o governo: pediu menos interferência estatal nos negócios e medidas de desburocratização principalmente para a abertura de empresas. Como os recursos públicos são por definição escassos, foi o próprio setor, liderado pela associação, que elencou como prioridade o apoio em duas áreas: inovação tecnológica, para ajudar ao desenvolvimento de produtos de valor acrescentado e maior margem, e internacionalização. Um parceria tão alinhada que se manteve estável mesmo com a alternância de partidos de diferentes cores na liderança dos governos, lembrou o diretor da ATP.

Os resultados não tardaram a surgir e que, passada mais de uma década, continua a dar frutos: Portugal vem batendo recordes de exportações – que, só em 2018, valeram 5,3 mil milhões de euros, o equivalente a mais de 70% do volume de negócios do setor. A imprensa brasileira enfatiza que este valor é cinco vezes superior às vendas externas brasileiras no último, que não chegaram sequer aos 1000 milhões.

Paulo Vaz recordou que atualmente mais de 400 empresas portuguesas participam em 85 feiras espalhadas por 35 mercados diferentes e um investimento anual de 16 milhões de euros apenas para a promoção no exterior. Por outro lado, e nos últimos quatro anos, segundo disse Paulo Vaz, as empresas têxteis portuguesas investiram cerca de dois mil milhões de euros em novos equipamentos, máquinas, novos layout e melhoria da gestão, tudo com o foco no aumento da maior competitividade nos mercados internacionais.

Para o diretor-geral da ATP, a indústria brasileira tem potencial para trilhar um caminho semelhante ao português, mas antes precisa de garantir uma presença internacional mais proporcional à sua dimensão – o que, no caso brasileiro pode ser um problema: o consumo doméstico basta muitas vezes para assegurar a sobrevivência das empresas, que acabam por não dar a devida relevância à internacionalização e às exportações.

Mas Paulo Vaz deixou uma esperança: o acordo comercial entre a Europa e o Mercosul é uma grande oportunidade para o Brasil começar essa mudança.

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