Bebiana Rocha
A SIC transmitiu ontem, em horário nobre, uma reportagem de grande relevância para o sector têxtil e do vestuário, alertando para os riscos associados ao crescimento explosivo das plataformas de ultrafast Fashion, como a Temu e a Shein.
Num cenário em que, só em 2024, foram registados 4.600 milhões de encomendas de comércio digital – e com projeções a apontarem para quase o dobro em 2025 – as associações do sector alertam para a necessidade urgente de defender as empresas nacionais e o futuro da produção europeia.
Mário Jorge Machado, presidente da ATP – Associação Têxtil e Vestuário de Portugal, sublinhou a dimensão do fenómeno: “chegam por dia cerca de 40 aviões com artigos destas plataformas, que vendem diretamente ao consumidor europeu”.
A ausência de fiscalização eficaz levanta sérias questões: quem garante que os produtos são legais, seguros e não poluentes? Como se assegura o cumprimento das obrigações fiscais e aduaneiras?
A reportagem tenta responder mostrando a realidade de intervenientes como os CTT e a Autoridade Tributária e Aduaneira, mas também com um exercício prático: a equipa da SIC encomendou nove peças têxteis de uma destas plataformas digitais e submeteu-as a testes no CITEVE. O resultado: dois dos nove produtos apresentaram inconformidades, nomeadamente a presença de químicos nocivos proibidos na União Europeia.
Ricardo Silva, da Tintex Textiles, reforçou a preocupação com o uso destes produtos químicos perigosos, partilhando exemplos concretos da realidade da produção nacional, que tem de seguir padrões de qualidade.
Também a Centexbel, entidade congénere do CITEVE na Bélgica, analisou 160 artigos adquiridos online e concluiu que 26 não cumpriam as restrições europeias em vigor.
“A Shein vende mais na Europa do que aquilo que o sector têxtil europeu produz para exportação”, lamentou Mário Jorge Machado, sublinhando o impacto concorrencial avassalador destas plataformas, que escapam a muitas das regras impostas aos produtores locais.
A reportagem da SIC coloca também em evidência a questão do regime dos minimis, atualmente em discussão. Esta brecha legal permite a entrada de pequenas encomendas sem o pagamento de taxas aduaneiras.
“Há duas Europas: a do Sul, que produz, e a do Norte, que importa”, alerta Luís Figueiredo, CEO da marca Laranjinha, manifestando a frustração com a falta de coesão política e regulatória dentro da União Europeia.
Num momento crítico para o futuro da ITV europeia, esta reportagem reforça a urgência de medidas eficazes e concertadas para proteger a produção nacional, garantir práticas comerciais justas e salvaguardar os consumidores.