09 junho 23
Sustentabilidade

Ana Rodrigues

Mário Jorge Machado desiludido com o Parlamento Europeu

“É fundamental que as autoridades reconheçam que se as empresas não forem competitivas não há futuro. Estamos a falar de 160 mil empresas, 1,3 milhões de trabalhadores e 169 mil milhões de euros de faturação que poderão estar em jogo”. É sobre este contexto que Mário Jorge Machado, presidente da ATP, manifesta a sua preocupação face à adoção do recente Relatório sobre a Estratégia da União Europeia para os Têxteis Sustentáveis e Circulares.

O relatório recentemente adotado não reconhece, na opinião da ATP, “o esforço da ITV europeia para aumentar a sustentabilidade, nem as ameaças competitivas ou o atual contexto económico enfrentado pela empresa num sector diverso que afeta não só a moda, mas também outras realidades muito distintas”, salienta o presidente da ATP em artigo de opinião para o T Jornal.

Em conjunto com a federação europeia do sector, a Euratex, a ATP tem vindo a trabalhar com a Comissão Europeia na Estratégia que foi aprovada o ano passado para os Têxteis Sustentáveis e Circulares com o objetivo de dar conhecer à sociedade civil que as empresas deste sector têm vindo a investir avultadamente na sustentabilidade, no desenvolvimento de processos e modelos de negócios mais sustentáveis, mais responsáveis e mais circulares, continuando a investir na qualidade e durabilidade dos produtos e reduzindo o seu impacto ambiental.

No entanto, “o Parlamento Europeu parece não ter avaliado corretamente que sustentabilidade e competitividade têm obrigatoriamente de caminhar de mãos dadas, sendo necessário um equilíbrio entre ambos os objetivos”, explica Mário Jorge Machado. Acrescentando que é também necessário considerar as marcas e consumidores para que assumam a sua responsabilidade, “pois apenas com todos os players envolvidos e comprometidos, nos objetivos e na ação, se poderão dar passos eficazes nesta evolução”.

Nesse sentido, o presidente da ATP considera que “há muito caminho a percorrer”: na procura e na valorização dos têxteis sustentáveis, sendo necessário melhorar a comunicação e a transparência, mas também há necessidade de atentar “à inovação, ao investimento, ao financiamento e à capacitação para que a estratégia resulte”. A contratação pública e o comércio eletrónico são outros vetores a ser considerados.

Contudo, “é necessário que os responsáveis políticos não se esqueçam que estamos a falar do Mercado Único e que não podemos ter um negócio sustentável e circular se os produtos importados não cumprem exatamente com os mesmos requisitos do que os produzidos na UE”, afirma. Na opinião do presidente da ATP, a fiscalização dificilmente resolverá o problema e, portanto, “a solução passará sempre por outras ferramentas, credíveis, fiáveis, razoáveis, mas sobretudo que garantam a veracidade, a sustentabilidade e a circularidade dos produtos e dos negócios na EU”.

“Tendo em conta os investimentos necessários para se atingirem os objetivos da sustentabilidade e circularidade, temos que ter a garantia de que, de facto, os produtos importados cumprem as mesmas condições dos produtos comunitários, pois isso é fundamental para garantir a competitividade da indústria europeia”, conclui Mário Jorge Machado.

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