Bebiana Rocha
O presidente da EURATEX, Mário Jorge Machado, esteve esta manhã presente no Brussels Textiles Forum, onde falou sobre o Estado da Indústria. No seu discurso, voltou a sublinhar que a legislação tem de ser viável para as empresas e que é fundamental garantir um comércio justo para todas as partes, de forma célere.
“Nos últimos anos, temos assistido ao desenvolvimento de um conjunto de legislação em Bruxelas. O objetivo é incentivar empresas e marcas a produzirem de forma mais sustentável e a comunicarem de forma diferente com o consumidor. A EURATEX está envolvida no processo de moldar este novo framework. Não estamos contra a legislação, mas temos de insistir em regras que sejam tecnicamente viáveis. Não podemos ter um enquadramento legal que se aplique apenas às empresas europeias”, afirmou.
Mário Jorge Machado apelou ainda a um maior controlo por parte das entidades competentes, alertando que, sem esse controlo, não se sabe o que pode estar a chegar de fora. “Não estamos a pedir que se fechem fronteiras, mas sim um nivelamento do terreno de jogo: as mesmas regras para toda a indústria”, reforçou.
Com a guerra tarifária na ordem do dia, o também presidente da ATP – Associação Têxtil e Vestuário de Portugal abordou o impacto que esta está a ter no setor têxtil: “As marcas estão a reconsiderar as suas opções de sourcing, e as empresas a procurar novos mercados. Estamos a assistir a um aumento drástico das exportações chinesas para a Europa, uma vez que não conseguem exportar a sua capacidade para os EUA”.
Para ilustrar a gravidade da situação, apresentou dados: no primeiro trimestre do ano, registou-se um aumento superior a 30% nas exportações chinesas para a Europa, comparando com o ano anterior.
Em paralelo, subsiste o problema da duplicação anual de encomendas de produtos de baixo valor através de plataformas online, que não estão alinhadas com os padrões europeus, não cumprem as obrigações fiscais nem pagam taxas alfandegárias. “A Europa está a analisar a situação, mas precisamos de mais do que análise. Precisamos de medidas concretas para garantir um comércio justo e livre. Como temos visto, alguns Estados-Membros, como a França, já estão a agir. Precisamos de uma resposta mais rápida e unificada da União Europeia”, defendeu.
O discurso terminou com uma exaltação à qualidade europeia: “Temos muitas oportunidades. Temos a nossa história, a nossa criatividade, os nossos produtos de alta qualidade. Temos aquilo que é tão importante na Europa — alta tecnicidade e craftsmanship”. Sublinhou ainda que “devemos fazer um esforço maior para nos promovermos”, apelando a que marcas e confecionadores trabalhem mais lado a lado: “As marcas, sem a indústria, perdem a sua agilidade”, recordou.
Como habitual, incentivou as empresas a abraçarem a sustentabilidade e a digitalização como fontes de competitividade: “A sustentabilidade não é apenas um custo. Muitas empresas estão a investir fortemente em inteligência artificial, novas tecnologias, novos equipamentos, no desenvolvimento de novas fibras e na reciclagem. Se queremos ser líderes, temos de investir, criar soluções para o futuro, novas competências e novos tipos de trabalhadores”.
O evento contou com casa cheia, reunindo líderes da indústria, inovadores e decisores políticos dispostos a dialogar sobre o futuro da indústria têxtil europeia. Entre as apresentações, destaque para “Navegar pelas mudanças geopolíticas”, seguido de um painel sobre “Desbloquear o crescimento e a competitividade da indústria têxtil”.