Bebiana Rocha
Imagem: Egídio Santos
O Presidente da ATP, Mário Jorge Machado, sublinhou, no seu habitual discurso sobre o Estado do Setor no 27.º Fórum da Indústria Têxtil, que “a burocracia não nos pode atar as mãos” e que os sucessos do passado não são garantia de futuro, sendo por isso essencial uma ação efetiva por parte do Governo e também da Europa.
“As linhas de crédito têm de ser mais ágeis”, começou por apontar, seguindo com o pedido de criação de mecanismos de apoio quando são ultrapassados certos patamares de preços da energia e do gás natural. Considerou também a reforma fiscal como muito importante – “as horas extra até dois salários mínimos por ano não deviam ser englobadas no IRS” –, e defendeu ser urgente acelerar a aprovação de projetos.
Apontou ainda a necessidade de simplificar o modelo de lay-off atual, por ser um mecanismo importante de proteção do emprego e da competitividade. “Não estamos a falar de precariedade”, sublinhou, “mas sim de flexibilidade, que é necessária para garantir competitividade e sobrevivência”.
Deixou também uma crítica clara ao que considera ser a desvalorização dos empresários no país: “Há uma estigmatização de quem cria riqueza, de quem constrói futuro. Não é favor nenhum o que fazem pelo país”, relembrou.
Durante a intervenção, que teve lugar na sexta-feira, dia 4 de julho, no CITEVE, Mário Jorge Machado sublinhou que o Valor Acrescentado Bruto da indústria têxtil e vestuário é superior ao da indústria automóvel, apesar de as exportações serem menores.
Fez questão de destacar que vivemos um momento simultaneamente histórico e decisivo, difícil em termos de comércio internacional, apontando o exemplo da China, que está a crescer. Há, segundo o presidente da ATP, uma nova realidade, em que a Europa é invadida diariamente por milhares de encomendas provenientes de plataformas digitais que faturam o dobro do grupo Inditex e estão ligadas ao ultra fast fashion.
“Dentro da União Europeia temos constrangimentos, legislações muito rígidas, que não estão a ser adaptadas com a velocidade devida”, alertou, lembrando que mais de 50% do que é vendido em plataformas como Shein e Temu é produto têxtil, não rastreável, associado a dumping ambiental, social e a fraude fiscal. Este tema tem sido transversal aos vários discursos do Presidente, quer nas suas intervenções na EURATEX, quer na Comissão Europeia.
Apesar da conjuntura desafiante, Mário Jorge Machado fez também questão de identificar oportunidades. A circularidade foi uma das principais, considerando que é necessário um investimento maior na educação dos consumidores, numa comunicação mais eficaz e num branding mais forte. Também o nearshoring surge, para o responsável, como uma oportunidade a agarrar.
O Presidente da ATP anunciou ainda que este é o seu último mandato e que foi o seu último discurso neste cargo. Deixou um agradecimento à direção, aos órgãos sociais e à equipa, reconhecendo os contributos e alertas recebidos ao longo do percurso, que permitiram uma presidência mais assertiva. Relembrou que foram anos de criação de pontes – “a relação da ATP com outras associações permitiu criar pontes” –, e destacou também a aproximação a centros tecnológicos e universidades. “Acredito muito no setor!”, finalizou.