Bebiana Rocha
A Fabricaal – Fábrica Alentejana de Lanifícios, em Reguengos de Monsaraz, foi recentemente destacada pela National Geographic como exemplo de preservação da história e da tradição portuguesa. A publicação sublinha a singularidade da empresa, onde ainda hoje se tece em teares manuais, mantendo viva a arte das famosas mantas alentejanas.
Fundada nos anos 30 do século XX por António Durão como uma pequena oficina, a empresa transformou-se em fábrica nas décadas seguintes, pelas mãos de José Rosa, já com o nome Fábrica Alentejana de Lanifícios. Foi então que se iniciaram os primeiros passos da internacionalização, processo que despertou a atenção da holandesa Mizette Nielsen. Em 1977, Nielsen assumiu a gestão, modernizou processos, introduziu novas linhas de produto e garantiu a sobrevivência da marca até 2020.
Desde então, a Fabricaal é gerida por três empresários portugueses – António Carretreiro, Luís Peixe e Margarida Adónis – que continuam a apostar na tradição e na autenticidade. Hoje, a empresa produz mantas, tapetes, puffs, almofadas, bolsas e outros acessórios, sempre com técnicas artesanais.
De acordo com a National Geographic, a lã foi durante muito tempo a “espinha dorsal da economia local”, lembrando que em tempos servia para confeccionar cobertores de pastores, em tons castanhos e pretos, antes de evoluir para mantas de viagem mais elaboradas, com cores vivas e motivos tradicionais, como o “caule” ou o “olho de perdiz”.
Atualmente, a Fabricaal conta com 11 teares artesanais de madeira e manivela, alguns com mais de um século, operados por uma equipa de oito pessoas, maioritariamente mulheres.
As instalações funcionam num antigo lagar de azeite de 1918, que se tornou também num espaço de visita, assumindo-se como um verdadeiro “museu vivo” das mantas de Reguengos.
Segundo Luís Peixe, um dos sócios, em entrevista ao T Jornal esta terça-feira: “Trabalhamos muito o mercado da decoração, com designers de interiores, mas também vendemos diretamente ao público através das nossas duas lojas e da loja online. Os produtos mais frequentes são tapetes, todos feitos à mão, mas também mantas e cabeceiras de cama, todas por medida. Os clientes podem personalizar a estrutura dos padrões e as cores, tendo flexibilidade para desenhar a sua própria peça.”
Questionado sobre a formação de pessoas para trabalhar com teares antigos, Luís explica que “temos feito essa formação internamente e tem corrido bem; o know-how tem sido mantido e, inclusive, tivemos pessoas mais novas a querer entrar neste ofício”. Relembra ainda que tudo é feito em Portugal, desde a compra do fio até à sua lavagem e tingimento, não ficando alheio à situação do atual lavadouro, que está em risco de fechar. “Da tecelagem ao produto final, o processo é todo feito dentro de portas.”
Em termos de vendas, o negócio tem-se mostrado rentável, fruto da aposta em novas categorias de produto. “Temos vindo a crescer e a internacionalizar cada vez mais as mantas; as vendas internacionais já representam 25% da nossa faturação. Os principais mercados são a Europa Central e do Norte e os Estados Unidos.” Luís e os dois sócios assumiram o projeto no ano mais difícil, durante a pandemia de Covid, conseguindo mesmo assim afirmar o produto com projetos inovadores.
Para o futuro, os objetivos passam por continuar a manter esta arte viva, entrar em novos mercados e desenvolver a vertente turística, tornando o museu num verdadeiro mostruário, com as várias fases da história da empresa. “As visitas organizadas que fazemos agradam muito às pessoas; ver ao vivo dá sempre outra valorização aos nossos produtos”, conclui.