Bebiana Rocha
A APLOG convidou Luís Mota, representante da Morito Europe, para falar sobre sustentabilidade no caso japonês. Durante a apresentação, o orador deixou claro que o que conduz ao sucesso das medidas no Japão é a colaboração governamental com as empresas.
“Temos um representante da empresa no Governo que é ouvido”, disse, explicando que, enquanto em Portugal as empresas não são chamadas à tomada de decisões, no Japão, conforme a sua dimensão, têm representação parlamentar, o que contribui para decisões mais ajustadas às necessidades reais.
A Morito é um grupo de empresas com atividade em diferentes áreas, nomeadamente vestuário e transporte. Fatura 300 milhões de euros e investiu, em 2024, 3 milhões em sustentabilidade — sobretudo em tecnologias para reciclar matérias-primas e produzir novas a partir daí.
Fazem botões, ilhós, fivelas, bem como peças para o interior de automóveis, aviação e comboios, além de acessórios como mochilas. “A reciclagem pode ser extremamente lucrativa para as empresas”, constata Luís Mota. “Uma boa parte dos co polímeros que usamos vem dos Estados Unidos. Temos de começar a pensar na autossuficiência. Devemos reduzir a nossa dependência de matérias-primas virgens para resistir aos aumentos de preços”, completou.
Deu mais uma vez o exemplo do que está a ser feito na Morito: “Para não dependermos do exterior, temos de melhorar a nossa tecnologia, tornar o lixo em matéria-prima.” Para isso, foi criada uma empresa dentro do grupo, a Rideeco, que trabalha a reciclagem de papel — compra jornais e revistas usadas, caixas de cartão, e transforma-as, por exemplo, em etiquetas.
Outro exemplo é o reaproveitamento dos plásticos do mar: “40% do lixo do mar tem a ver com redes de pesca. Nesta área também reciclamos — pagamos aos pescadores para recolherem as redes e transformamo-las em produto que comercializamos através de outra marca, a Muron.” Com os plásticos são feitos, por exemplo, fios. Têm inclusive uma tecelagem própria para venderem também tecido.
Até nos airbags usados Luís Mota vê potencial, pela sua característica de ser retardante de chama. “O Governo japonês ajuda as empresas a desenvolverem tecnologia, métodos de produção mais sustentáveis e eficientes”, volta a reforçar.
Na exposição, o responsável trouxe ainda exemplos de marcas japonesas de jeans que se destacam pela sustentabilidade e tradição. Momotaro Jeans, Edwin e Uniqlo são apenas três das marcas citadas.