19 março 25
Moda

Bebiana Rocha

Luís Buchinho: 35 anos de experiência que quer passar aos mais jovens

O designer de moda Luís Buchinho completa este ano 35 anos de carreira. A Universidade Lusófona está a organizar um desfile de homenagem ao também docente na Licenciatura em Design e Produção de Moda. É dia 22 de março, pelas 16h30 nas instalações do Porto. O criativo foi desafio a envolver 27 estudantes na criação da sua coleção outono/inverno 2025/2026, ao T Jornal resume o seu percurso, como correu o desafio e deixa conselhos para a nova geração.

Como descreve estes 35 anos ligado ao mundo da moda? Como vê a sua evolução ao longo do tempo? Ainda se lembra da primeira coleção, do primeiro desfile?

O primeiro desfile que fiz foi em 1989, Arte Tejo. O desfile mais oficial que fiz foi a Portex com o concurso de jovens e estilistas, seguido da ModaLisboa. Comecei a perceber que era uma coisa que me dava imenso prazer, materializar os meus croquis.

Tinha uma admiração profunda pela moda de passerelle que me chegava às mãos através de revistas de especialidade com nomes parisienses dos anos 80 e 90 e este sonho materializou-se com vários convites para integrar concursos e desfiles.

Percebi rapidamente que queria criar a minha marca própria. A minha marca de moda arrancou em 1991 com a primeira edição oficial da ModaLisboa com desfiles individuais.

Comecei a perceber que para conseguir prosseguir com coleções em passerelle teriam obrigatoriamente que ser produzidas e revendidas para clientes multimarca para se tornarem icónicas e economicamente viáveis.

Dei início assim a um processo que decorreu durante 35 anos, com muitas nuances, muitos tipos de mercado, muitos tipos de estratégias, desfiles, de feiras, agentes…

Qual foi o momento mais marcante?

Não sei responder a essa pergunta. Um momento muito marcante foi quando ganhei o concurso da Portex de jovens criadores, que foi na altura, em 1990, um prémio de 2500€, que me permitiu projetar com algum desafogo financeiro.

Fez com que me pudesse apoiar financeiramente em algo para poder criar a minha coleção. Ao longo destes anos tem havido muitos prémios, desfiles muito especiais.

Como é que equilibramos a criatividade com a viabilidade comercial?

É um exercício dificílimo, requer muito pensamento, muita esquizofrenia mental, na medida em que temos muitas vozes na cabeça que falam por nós – as vozes das clientes, dos agentes, as vozes das lojas multimarca, as vozes dos produtos mostrados online – têm de ser todas elas contempladas se quisermos chegar a um produto que seja comercializado e que seja um sucesso a nível de vendas.

É um processo que eu acho extremamente difícil, é muito mais difícil do que um exercício de passerelle meramente contemplativo a nível editorial. É difícil criar uma coleção que seja um sucesso a nível de design e uma coleção que contemple de uma maneira criativa a moda de autor e de forma eficaz.

Como é que gere a concorrência da moda de autor com fast Fashion?

Tenho um feedback de clientes que têm no armário peças com duas, três décadas, que estão neste momento a transitar de geração, não há argumento melhor que este.

Ter um produto que anda de geração em geração e não passa de moda, porque nunca esteve na moda, e não passa de qualidade porque na verdade nunca se estragou, é o discurso que temos de ter e que sempre tive, mesmo quando não se falava de sustentabilidade.

É um valor seguro no armário, mesmo que as peças não sirvam conseguem acoplar aquele objeto um outro valor.

Quais são os conselhos que pode dar aos jovens designers nesta matéria de sustentabilidade?

Criem peças atemporais, que sejam facilmente transitáveis na tendência do momento. Tem de ter algo que fale com o consumidor no momento da compra, não pode estar desatualizado, mas que pela sua execução e pela segurança que conferem à cliente vão ultrapassar tendências e os anos de uma maneira eficaz.

Que características tem de ter um designer para ter impacto internacional?

Curiosidade, consistência e alguma dose de masoquismo.

Essas são também as qualidades precisas para se continuar a conseguir-se manter relevante durante tantos anos numa indústria que está sempre em mudança?

Sim, sendo a capacidade de superação essencial nessa conquista.

Quais são as ambições para o futuro?

Viver o dia a dia de forma prazerosa.

Neste momento há uma vertente em mim que está a mudar de uma forma acelerada. O meu lugar enquanto designer, a minha experiência e a minha técnica vai passar muito mais facilmente de geração e vai ficar muito mais facilmente no imaginário daqui a umas décadas sendo passado a alunos, mais do que fazer coleções sazonais. Hoje em dia é essa a minha aposta.

Foi esse pensamento que também o levou a criar uma coleção com os seus alunos e apresentar na ModaLisboa?

Sim, a coleção e a parte mais técnica foi trabalhada em sala de aula, em projeto curricular. Tiveram um contacto direto com a marca e com o seu histórico, para contextualização do mercado alvo, consumidor, e depois com todos os processos inerentes à construção de uma coleção, tais como o desenho, a modelagem, a prototipagem de ensaios, construção de peças finais, lineup para um desfile, as provas que se fazem tanto dos protótipos como das peças finais para chegar ao styling final no desfile. Uma abordagem muito completa e muito compacta…Fizemos isto num tempo recorde – o que é a construção de uma coleção de moda de autor.

Deu mais trabalho de fazer a coleção com eles do que seria fazer sozinho?

Exigiu uma supervisão enorme, estou habituado a trabalhar com equipas muito pequenas, aqui foi o contrário, uma equipa gigante, numa fase ainda prematura. Estou a dar aulas num curso que começou há 4 meses, o nível de conhecimento é de início.

A grande conquista foi o facto de haver no desfile peças finais que foram feitas pelos alunos, isso é uma vitória absurda. Os alunos fizeram peças muito complexas, demoraram várias semanas a conseguir, mas fizeram, e são peças que estão ao nível das minhas peças executadas em ateliês e fábricas da minha confiança. Estou muito contente com o resultado do projeto.

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