Bebiana Rocha
Mário Jorge Machado esteve esta manhã, na qualidade de presidente da EURATEX, no painel Megatrends do iTechStyle Summit, um evento organizado pelo CITEVE ligado à inovação, que decorre até quarta-feira na Alfândega do Porto.
O representante começou por reconhecer que estão a ocorrer mudanças no discurso da Comissão Europeia e na visão que têm sobre a indústria. “Na Antuérpia estive com a presidente da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen, onde se anunciou o Clean Industrial Deal. A Europa tem vindo a perder competitividade industrial – perdeu 13% em 2024. É algo que temos de alterar, daí a CE começar a introduzir a competitividade da indústria no seu discurso”, enquadrou.
“O que está em causa é a soberania europeia”, chamou à atenção, lembrando que o sector têxtil e vestuário é um dos 14 sectores estratégicos da economia. “Porque é que faz todo o sentido que assim seja? No Covid estávamos dependentes da Ásia e quem teve de resolver em poucas semanas essa dependência foi a indústria e os centros tecnológicos”.
E fez o paralelo com os dias de hoje: “A indústria hoje está a ter um papel importante na defesa. É outra das megatendências críticas para a Europa nos próximos tempos, para tornar as proteções dos soldados em algo mais atrativo e adaptável a vários teatros de operações”.
O também presidente da ATP falou da importância de se investir em inovação nos processos produtivos, abrindo um parêntesis para o relatório Draghi: “Foi claro, ou investimos na inovação, ou então não vamos ser capazes de competir com outras zonas onde isso está a ser feito”.
A circularidade foi outro dos desafios falados esta manhã, juntamente com a mudança no comportamento dos consumidores. “Temos vindo a observar que as plataformas de ultra fast fashion estão a crescer e temos feito sucessivos alertas para o que está a acontecer – dar incentivos fiscais para que se importem produtos mais baratos”.
O ponto alto da apresentação foi a denúncia de uma fraude fiscal que está a ser feita pelas plataformas asiáticas, como a Temu e a Shein, no valor de 89 mil milhões de euros, por não pagarem IVA – algo que dá uma vantagem gigantesca em relação às empresas europeias.
A intervenção terminou com uma menção à inteligência artificial: a Google tem agora um novo software em que o utilizador pode escolher uma foto da sua galeria, uma peça de roupa de uma plataforma e pedir para trazer a combinação, para ver como ficaria peça. “A IA terá um impacto gigantesco”, promete, terminando com a seguinte mensagem: “O futuro vai depender do que decidirmos fazer, do que formos capazes de inventar, sendo que temos a vantagem criativa. Na Europa temos a obrigação de liderar esta indústria, de ser o centro da inovação para a circularidade e sustentabilidade”.