Bebiana Rocha
As oportunidades para uma indústria de defesa moderna e inovadora em Portugal estiveram em discussão na passada semana na EMAF, através da iniciativa Future Summit. Sentados à mesa estiveram Isabel Furtado, Presidente do Conselho de Administração do CEiiA, Paulo Rios, Administrador da AICEP, Rafael Campos Pereira, Vice-presidente da CIP, e Fernando Sousa, Vice-presidente do Conselho Geral da AEP.
Isabel Furtado abriu o debate com a questão dos cadernos de encargos europeus, que considera estarem em contraciclo com as necessidades da indústria. “O critério de preço tem de mudar para sustentabilidade”, exemplificou, referindo que a NATO já adota um caderno de encargos diferente, que defende a indústria europeia. Sublinhou ainda que cadernos direcionados exclusivamente aos países não funcionam, uma vez que “são exércitos pequenos”.
Introduziu também a ideia de que “as PMEs são importantíssimas, mas as grandes também” e propôs a criação de consórcios para concorrer ao mercado europeu. Defendeu o aproveitamento do conceito de cluster, envolvendo contratantes e subcontratados, à semelhança do que acontece com o PRR, baseado na colaboração.
Seguiu-se Paulo Rios, com um discurso encorajador: “Portugal tem vantagens competitivas”, afirmou, sublinhando que o país é concorrencial, “sobretudo em contextos mais exigentes e inovadores”. Apelou à colaboração dentro do setor: “Isto não é para corredores solitários, é importante juntarmo-nos. O cluster tem um papel importante, as associações também”, reforçou. Entregou ao Estado a missão de definir uma estratégia clara: “O Estado deve gerar condições para as empresas serem concorrenciais e eliminar custos contextuais”, concluiu.
Rafael Campos Pereira tomou a palavra reforçando a importância da coesão: “Precisamos de trabalhar de forma coesa, de forma articulada, para chegarmos a centros de decisão como a NATO. É importante também que nos ajudem a chegar à NATO”.
Fernando Sousa focou a sua intervenção na fertilização cruzada. O representante da AEP destacou que já existem provas de produtos novos e que as exportações portuguesas na área da defesa ultrapassam os 2,2 mil milhões de euros. Alertou, contudo, para as especificidades deste setor, nomeadamente ao nível das certificações e da natureza sigilosa. Sublinhou ainda a importância do nearshoring nesta nova era — “o capital chinês, neste caso, não pode entrar, tem mesmo de ser capital europeu” — e a necessidade de as empresas acederem a informações em tempo real.
Numa segunda ronda de questões, Isabel Furtado voltou a abordar um conceito presente no seu discurso inicial: o do duplo uso. “Os avanços têm de ser também eles comerciais e não só de uso militar. Veja-se o exemplo do GPS”, defendeu, mostrando-se preparada para reconverter a sua empresa para a área da defesa.
“Não podemos ter preconceitos”, apoiou Rafael Campos Pereira. “A questão da ameaça russa não é um mito, o duplo uso pode e deve ser aplicado a processos. Encaremos isto como uma missão patriótica”, concluiu. Fernando Sousa encerrou o debate, defendendo que é essencial encontrar formas de tornar os desenvolvimentos úteis para a sociedade civil, uma vez que está em causa um investimento nacional na ordem dos 29 mil milhões de euros.