Bebiana Rocha
Imagem: Compete2030
A Hidrofer – Fábrica de Algodão Hidrófilo assinala este ano cinco décadas de existência, afirmando-se como um verdadeiro bastião europeu no seu segmento. Fundada em 1975 por Carlos Silva, a empresa mantém uma posição única no panorama industrial: é a única da Península Ibérica ainda em operação na área do algodão hidrófilo e a única em toda a Europa com capacidade de branqueamento próprio de algodão — um processo altamente regulado e exigente, que desapareceu noutros países do continente face aos custos, à legislação ambiental apertada e à concorrência internacional desleal.
Hoje, meio século depois de ter começado com apenas dois colaboradores, a Hidrofer é uma referência global, dominando toda a cadeia de valor do algodão. Cada fibra processada passa por um circuito fechado de rastreabilidade absoluta, aliando precisão tecnológica e controlo rigoroso de qualidade. Os produtos da empresa têm aplicações nas áreas médica, cosmética e de higiene pessoal, sendo pensados para oferecer agilidade, alto desempenho e fiabilidade em setores particularmente exigentes.
“A nossa agilidade e capacidade de adaptação permite-nos crescer lado a lado com os clientes, antecipando necessidades, otimizando processos e elevando os padrões do setor”, afirma Hélder Silva, atual responsável pela empresa, em entrevista ao T Jornal.
Crescimento com base na diferenciação e na qualidade
Num setor global onde o preço dita muitas vezes a sobrevivência, a Hidrofer resiste apostando na diferenciação pela qualidade, pelo serviço e pela inovação. Para Hélder Silva, “em produtos muito maduros como este, é difícil criar valor adicional”, e por isso o caminho passa pela inovação e pelo registo de novas patentes. A empresa recorre já à inteligência artificial em vários pontos da produção, nomeadamente na deteção e remoção de impurezas, partículas metálicas e outras potenciais contaminações, garantindo a pureza e segurança do algodão hidrófilo produzido.
A nova fase de desenvolvimento da Hidrofer inclui ainda a aquisição de novas instalações em Avidos, na freguesia de Lagoa. Este espaço mais amplo permitirá concentrar todas as operações da empresa e implementar novas linhas produtivas. “O algodão precisa de muito espaço, mesmo em produto acabado tem muito volume”, sublinha o responsável.
Sustentabilidade: do algodão à energia
A Hidrofer tem investido de forma sustentada na transição ecológica. Hoje dispõe de uma capacidade instalada de produção de energia solar de 598,65 kWp, gerando anualmente cerca de 660.390 kWh — uma poupança de quase 300 toneladas de emissões de CO₂ por ano. Para além da aposta em energia verde, a empresa tem um sistema avançado de reutilização de água, conseguindo atualmente recuperar 80% da água utilizada no processo de entrelaçamento de fibras com jato de água (waterjet) e 40% na tinturaria.
Esta abordagem tem um impacto direto não só na sustentabilidade ambiental, mas também nos custos operacionais, ao evitar o recurso intensivo às estações municipais de tratamento de águas. Entre outras medidas de economia circular, a empresa reutiliza a temperatura da água para aquecer outros circuitos, converte lamas do algodão em componentes para fertilizantes naturais e transforma desperdícios em briquetes de biomassa para alimentar as caldeiras da fábrica.
Um mercado global, mas exigente
Com presença consolidada nos mercados europeus e do Norte de África, a empresa tem expandido com sucesso para geografias mais distantes como a América Latina, algumas regiões da Ásia e, mais recentemente, o Médio Oriente — uma zona com crescimento exponencial após quatro anos consecutivos de investimento em feiras no Dubai e nos Emirados Árabes Unidos.
Ainda assim, a concorrência asiática, com estruturas de custo incomparavelmente mais baixas, representa um desafio constante. Hélder Silva critica os elevados encargos regulatórios da Europa: “Somos muito taxados. Não há nenhum mercado mais exigente do que o europeu, a burocracia é enorme.” O custo da mão de obra, a crise internacional e os efeitos colaterais da instabilidade geopolítica são outros fatores que obrigam a empresa a medir e controlar cada variável do negócio. “Só se sobrevive com eficiência.”
Pessoas, missão e futuro
Apesar de todos os avanços tecnológicos e de digitalização — nomeadamente na zona de embalamento —, Hélder Silva reconhece que o fator humano continua a ser determinante. “O problema não é contratar, é reter. É preciso compromisso e espírito de missão, porque há sempre emergências de clientes que temos de resolver.” A cultura de equipa e a mobilização interna são, por isso, peças-chave do sucesso da empresa.
A Hidrofer está também a reforçar a sua aposta no retalho, onde já opera com marcas próprias. Embora a representatividade no volume de negócios global ainda seja pequena, há novos produtos e posicionamentos a serem preparados para os próximos meses.
Com um nome consolidado no mercado e uma estratégia clara de diferenciação, inovação e sustentabilidade, as perspetivas para o futuro são animadoras. A empresa espera fechar 2025 com um crescimento de dois dígitos e antecipa um 2026 igualmente positivo.
Cinco décadas depois da sua fundação, a Hidrofer continua a afirmar-se como símbolo de excelência industrial e como último reduto europeu na arte do branqueamento de algodão — um legado raro, mas cada vez mais valioso num mundo que exige responsabilidade, qualidade e inovação.