Bebiana Rocha
Marcar a agenda e traçar a estratégia do sector têxtil e vestuário tem sido há 26 anos o papel da ATP – Associação Têxtil e Vestuário de Portugal ao organizar o Fórum da Indústria Têxtil. A 26ª edição decorreu ontem, no auditório da Casa das Artes, em Vila Nova de Famalicão, num evento que contou com o estreito apoio da autarquia famalicense. Mário Jorge Machado, Presidente, salientou no seu discurso de abertura a longevidade da iniciativa e tudo o que tem vindo a ser contruído pela Associação.
“Vivemos tempos complexos”, introduziu, aproveitando o palco para deixar o estado do sector e alguns recados incisivos ao atual Governo. “Os setores mais tradicionais são os mais esquecidos pelo poder político. A nossa importância e o que produzimos é superior aquilo que reclamamos junto do poder político”, disse, fitando a plateia, na qual se encontrava na fila da frente João Rui Ferreira, Secretário de Estado da Economia.
“As Associações existem para fazerem o poder político perceber o peso do sector!”, vincou ainda, solicitando políticas que ajudem as empresas a serem competitivas, nomeadamente ao nível da energia e sustentabilidade. “Precisamos de preços de energia mais competitivos”, apontou, identificando diretamente a importância de ser facilitado o acesso às redes de energia no local em que as empresas a consomem. “Precisamos de apoiar a compra de baterias”, exemplificou.
Mas não se ficou por aqui, pediu também uma maior eficiência do Estado: “precisamos de um simplex para unificar plataformas. O Estado devia estar centrado nas empresas, em incentivar a internacionalização” e nessa linha simplificar os processos de candidatura. “Não podemos executar um projeto sem saber se foi aprovado. A velocidade com que as entidades públicas respondem não se enquadra com a das empresas. A fiscalidade devia também ser mais amiga das empresas. A Autoridade Tributário não deve ver as empresas como inimigas”, alertou, pedindo uma mudança nos critérios que têm penalizado as empresas. O dirigente alertou inclusive para a emissão de coimas.
Como tem vindo a partilhar, a economia atravessa um período complicado, que se pode vir a intensificar-se com a reeleição de Donald Trump. “A chega de Donald Trump vai trazer guerras comerciais”, alertou. Um passo que pode ter um impacto significativo na ITV nacional uma vez que os movimentos americanos recentes têm sido no sentido de aproximar as suas cadeias de abastecimento. “Há mais empresas americanas a aproximarem-se de Portugal”, assumiu, esperando poder continuar a verificar esse near-shoring e propondo inclusive uma parceria com o Norte de África para explorar novas oportunidades.
Outro dos pontos tocados por Mário Jorge Machado foi a necessidade de as empresas melhorarem a qualificação de quem trabalha no sector. “Temos de investir na requalificação para responder ao paradigma das novas tecnologias. Para crescermos precisamos de dominar a IA”, sistematizou. No alinhamento, o rosto da ATP incluiu ainda a circularidade no centro do discurso, um tema que nunca se desgasta com a constante atualização da legislação.
Mário Jorge Machado continua a ver a regulamentação e as transformações dentro da União Europeia como uma oportunidade, entre elas a questão da reciclagem e da responsabilidade alargada do produtor. “A ATP está a trabalhar para em conjunto com outras entidades avançar com a gestão de resíduos”, fechou. Exigindo da parte da União Europeia medidas capazes de nivelar o terreno de jogo e evitar a concorrência desleal.
Um dos sinais que pode desde já ser dado pela UE e por Portugal é “terminarmos com as miopias das compras públicas nos sectores da defesa e da saúde”, deve ser dada primazia a produtos fabricados em solo europeu, com qualidade, em detrimento da política de preço.