13 novembro 25
Inovação

Bebiana Rocha

EverDye garante tingimentos com menos 80% de energia

A EverDye, startup francesa de química verde, assegurou em setembro um financiamento de 15 milhões de euros para industrializar a sua tecnologia patenteada de tingimento de base biológica, que utiliza baixas temperaturas e é compatível com as máquinas existentes nas fábricas. O processo permite às marcas e fabricantes reduzir emissões e consumos de água sem necessidade de investir significativamente.

O T Jornal entrevistou Philippe Berlan, CEO da empresa desde 2024, um executivo com larga experiência no setor do retalho e da moda, tendo no currículo nomes como La Redoute, Unilever e Yves Rocher.

A EverDye foi fundada em 2021 por Amira Erokh, doutorada em química de materiais, mas desde 2024 é liderada por Philippe, cujo objetivo é tornar a sustentabilidade acessível, escalável e real para a ITV global.

“A nossa missão é despoluir e descarbonizar o processo de tingimento na indústria têxtil. Para isso, desenvolvemos uma tecnologia totalmente nova, baseada numa química completamente diferente dos métodos convencionais, que permite tingir à temperatura ambiente, de forma muito mais rápida, utilizando pigmentos de origem biológica e compatível com as máquinas já existentes”, clarifica Philippe Berlan, chamando ainda a atenção para a possibilidade de reutilização dos banhos de cor.

Neste momento, a empresa já consegue tingir fibras celulósicas — como algodão, cânhamo, linho e viscose. “Estamos agora a desenvolver aplicações para fibras de poliéster e, até 2028, esperamos abranger todos os principais tipos de fibra”, avança em primeira mão.

Em termos de poupanças face aos métodos tradicionais, o processo permite menos 80% de consumo de energia e entre 60% a 80% menos de água. Além disso, não é necessário utilizar sais nem auxiliares químicos. Atualmente, a gama de cores disponíveis inclui castanho, laranja e amarelo. O objetivo é, em breve, disponibilizar também azul, vermelho e cinza-claro.

“O nosso pigmento proporciona uma intensidade comparável à dos corantes reativos. Em termos de solidez, já temos uma excelente resistência à luz e à lavagem”, afirma. “A solidez ao atrito ainda é apenas aceitável, mas pode ser otimizada através de um pós-tratamento, dependendo do tipo de tecido.”

Questionado sobre o destino dos 15 milhões de euros, o CEO explica que servirão para expandir os casos de utilização do produto, cobrindo todas as cores, tipos de fibra e maquinaria, escalar a produção industrial até às toneladas e reforçar as operações comerciais.

O objetivo a curto prazo é cobrir cerca de 80% dos casos de utilização exigidos pelo mercado, construir uma rede forte de parceiros industriais para produzir mais de 100 toneladas por ano e entregar produto suficiente para tingir entre 3 a 5 milhões de peças de vestuário.

A EverDye é composta por uma equipa de 20 pessoas, distribuídas por quatro departamentos: I&D, Produção, Aplicação Têxtil e Negócios.
Seis são doutoradas em química, cinco engenheiros têxteis, cinco químicos e quatro profissionais estão alocados às áreas de negócios e financeira, representando oito nacionalidades diferentes.

Em termos de colaborações, Philippe não avança nomes concretos, mas confirma estar a trabalhar com subcontratados especializados, marcas e tinturarias para validação industrial. A primeira já foi conseguida — uma coleção cápsula desenvolvida para a Adore Me.

Sobre Portugal, o CEO revela que já estão em contacto com várias tinturarias inovadoras e têm participado em eventos internacionais para reforçar a notoriedade da marca: “Participamos no World Biomarkets (Haia), Première Vision (Paris) e BNEF Summit (Londres).”

Por último, questionado sobre a sua visão da química verde e o futuro da indústria têxtil europeia, Philippe conclui: “A ITV europeia está profundamente comprometida com os desafios ambientais. É necessário reforçar esta liderança através de uma regulação forte e de apoio político.”

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