29 julho 25
Economia

Bebiana Rocha

Europa e EUA fecham acordo comercial com tarifa de 15% para exportações

A União Europeia e os Estados Unidos chegaram, este domingo, na Escócia, a um novo acordo sobre tarifas e comércio. Ficou estabelecida uma tarifa de 15% para a grande maioria das exportações europeias para o mercado norte-americano.

Ursula Von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, afirmou que “o acordo traz certezas em tempos de incertezas. Garante estabilidade e previsibilidade”, qualidades que considera essenciais para as empresas. Sublinhou ainda que os 15% representam “um teto claro, sem acumulações”.

Para Mário Jorge Machado, presidente da ATP – Associação Têxtil e Vestuário de Portugal –, o acordo “foi mau, mas foi o possível para a Europa”, face à sua atual fragilidade. Destaca que a situação dependerá também dos acordos com outras zonas geográficas, como o que está previsto com a China para outubro deste ano.

O líder da ATP justifica a sua posição afirmando que “continuamos a pagar mais para exportar para os Estados Unidos do que os Estados Unidos para a Europa. Um bom acordo teria sido tarifas zero dos dois lados”. Acrescenta que, com Donald Trump na presidência, dificilmente a Europa conseguiria um resultado diferente. “Sempre foi o objetivo dele obrigar a Comissão a aceitar esta tarifa”, constata, considerando que, ainda assim, a Comissão Europeia tomou uma atitude sensata ao aceitar os 15% para evitar uma guerra comercial.

No setor têxtil e vestuário, Mário Jorge Machado reconhece que o acordo tem efeitos mistos. “É menos mau porque há produtos que vão começar a pagar menos, embora haja outros que vão pagar mais. Por exemplo, os artigos de têxteis-lar pagavam menos nos quadros tarifários anteriores e passarão a pagar mais, já os artigos de vestuário que pagavam mais passarão a pagar menos”. Reitera, contudo, que o impacto final dependerá das futuras decisões sobre taxas aplicadas à China e ao Bangladesh.

O comunicado destaca ainda o reforço da cooperação energética entre UE e EUA, com vista à diversificação das fontes de abastecimento. “Vamos substituir o gás e o petróleo russos por compras significativas de gás natural liquefeito, petróleo e combustíveis nucleares dos EUA”, refere a CE.

Sobre este ponto, Mário Jorge Machado indica uma contradição: “Neste momento, a Europa paga cerca de 32,87€ por megawatt hora de gás natural, enquanto nos EUA o valor ronda os 12€. É um terço do custo”. Defende que esta aposta é paradoxal, considerando os objetivos europeus de descarbonização. “A Europa devia estar a definir uma estratégia para entregar preços de energia mais acessíveis às empresas”, afirma. “O Sr. Trump quer proteger a indústria americana e está a fazer esta guerra para garantir energia barata e proteção à indústria. Nós, na Europa, não temos nem preocupação com a indústria, nem com a energia”, lamenta.

O presidente da ATP recorda ainda que os EUA têm crescido mais do que a Europa, com um PIB per capita superior, e que, em contrapartida, o peso geoestratégico europeu continua a diminuir.

O acordo assinado inclui ainda uma cláusula que compromete a UE a investir cerca de 600 mil milhões de dólares nos Estados Unidos. Para o representante da EURATEX, este ponto é particularmente crítico: “É uma cláusula, diria, humilhante. Mostra a fraqueza negocial em que a Europa se encontra neste momento. O Sr. Trump obrigou a Europa a comprometer-se a investir no desenvolvimento da indústria americana, quando o nosso continente tem atravessado um processo de desindustrialização. Todos os anos perdemos capacidade industrial”. Na sua perspetiva, o acordo poderá deixar a Europa duplamente afetada: “Os muros que os EUA estão a levantar à China vão fazer com que o bloco asiático direcione a sua capacidade para a Europa”, alerta.

No encerramento do comunicado, Ursula Von der Leyen garantiu que a Comissão Europeia continuará a trabalhar na competitividade do continente e na celebração de novos acordos comerciais a nível global, considerados fundamentais para a prosperidade da UE.

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