Ana Rodrigues
A federação da indústria têxtil europeia, a Euratex, enviou à presidente da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen, uma carta em que dá a conhecer “a sua amarga decepção” pela definição de um teto máximo de 275 euros/MWh para o preço do gás natural, quando o sector apostava para os 80 euros.
A Euratex tinha apontado à Comissão que a definição de um teto máximo para o preço do gás era uma questão de sobrevivência, num quadro em que a inflação sobre as energias é neste momento o mais impactante dos custos de contexto. Os 80 euros propostos pela Euratex há várias semanas são considerados essenciais para a recuperação, uma vez que, atualmente, a indústria enfrenta preços insustentáveis no gás e na eletricidade.
O valor recorde do gás foi atingido em agosto passado, com 320 €/MWh e, ontem (23 de novembro), o preço foi o mais baixo do período de crise, mas atingiu 127 €/MWh, o que, ainda assim, é mais de 300% do que os preços normais – em julho de 2021, o preço grossista do gás na União era inferior a 30€/MWh.
Assim, refere a Euratex em comunicado oficial, a existência da indústria europeia “está em risco com ela a agenda europeia da sustentabilidade” – e a capacidade da Europa para implementá-la. Mais ainda, a Europa “perderá sua autonomia estratégica, que garante a disponibilização de bens e serviços essenciais no mercado interno europeu. O resultado da insuficiência do apoio será, diz a federação, a dependência de importações externas, que colocará em risco a agenda de sustentabilidade e a liderança da transição para uma economia circular no cenário internacional.
O cenário torna-se ainda mais negro face às decisões que têm sido tomadas nos mercados que concorrem diretamente com os europeus. Segundo a Euratex, as indústrias da China, Índia e Estados Unidos trabalham com gás que custa 10 dólares/MWh, para além do benefício de subsídios dos seus governos, como é exemplo o lançamento do plano de subsídio industrial dos Estados Unidos da ordem dos 369 mil milhões de dólares.
Dirk Vantyghem, diretor-geral da Euratex, acredita que “enquanto a indústria da União estiver sob uma pressão imensa e sem precedentes, um preço máximo de 275€/MWh não faz sentido: a indústria europeia será permanentemente empurrada para fora do mercado. A indústria está no centro do estilo de vida europeu e na base da nossa economia social de mercado. A União deve salvar a sua indústria para salvar a Europa. O momento de agir é agora.”