11 julho 25
Importações

Bebiana Rocha

EURATEX alerta para disparo das importações extra europeias

A EURATEX divulgou os dados relativos às importações de maio, evidenciando aumentos significativos na entrada de artigos têxteis e de vestuário oriundos de países terceiros, acompanhados por uma acentuada redução no preço por unidade. Esta combinação está a agravar a pressão sobre a competitividade das empresas europeias, que enfrentam crescentes dificuldades para competir com produtos mais baratos e em volumes crescentes.

Entre os casos mais alarmantes está o dos tecidos sintéticos estampados, cuja quantidade importada aumentou 446%, enquanto o preço é 46% menor, um sinal evidente da pressão exercida por mercados asiáticos. Também os tecidos de algodão e linho registaram uma verdadeira explosão nas importações: um crescimento de 960% em quantidade, acompanhado por preços 35% menores, o que coloca em risco direto a sustentabilidade das tecelagens europeias.

Os bordados decorativos, segmento tradicionalmente associado a maior valor acrescentado, também sofreram: o volume aumentou 328% e os preços são 18% menores. A estas categorias juntam-se outros produtos que merecem atenção, como o swimwear masculino de fibras sintéticas, com um aumento de 178% na quantidade e uma quebra acentuada de 65% no preço, bem como as blusas femininas de linho ou ramie, com um crescimento de 183% nas importações e uma redução de 11% nos preços. Também os tecidos de ramie registaram um aumento de 478% na quantidade importada e um preço 64% menor.

Perante este cenário, Mário Jorge Machado, presidente da EURATEX, apela a uma resposta política e estratégica urgente por parte da União Europeia. Entre as medidas propostas está o alargamento do Mecanismo de Ajuste Carbónico Fronteiriço (CBAM) aos produtos têxteis acabados, para além das matérias-primas, de forma a refletir nos preços de importação os custos ambientais e sociais da produção.

Defende ainda a implementação obrigatória de um Passaporte Digital de Produto, que inclua a pegada de carbono e informações sobre as condições laborais, bem como a definição de quotas mínimas de produção europeia nos concursos de compras públicas.

Outras recomendações incluem o lançamento de campanhas institucionais centradas na sustentabilidade e rastreabilidade dos produtos “Made in Europe”, a aposta na digitalização e automação para reduzir a dependência de mão de obra intensiva, fim dos minimis e a criação de uma plataforma comum de certificação europeia que permita aumentar a confiança do consumidor e a coerência dos sistemas de verificação.

Estas recomendações contam com o apoio da ATP – Associação Têxtil e Vestuário de Portugal, que tem alertado para os impactos severos desta concorrência desleal no tecido empresarial português.

No esforço da Confederação para ilustrar a crescente proeminência asiática no mercado europeu, foi também divulgada uma tabela com estimativas para o valor das exportações de têxteis e vestuário para a UE em 2024, com base nos dados de 2023 do Eurostat e em projeções sectoriais.

A China lidera destacadamente com 27,4 mil milhões de euros, seguida do Bangladesh com 13,9 mil milhões, da Turquia com 11,4 mil milhões e da Índia com 5,1 mil milhões. A leitura destes dados revela que o Bangladesh continua a dominar no segmento de vestuário de baixo custo e grandes volumes, a Turquia mantém uma posição competitiva pela sua flexibilidade logística e proximidade ao mercado europeu, enquanto a Índia se afirma nos nichos técnicos e desportivos. Outros países como o Vietname, também orientado para nichos técnicos, e o Paquistão, forte em fios e tecidos crus, completam o mapa das origens que mais preocupam a indústria europeia.

Face a esta conjuntura, a EURATEX reforça o apelo à implementação de medidas robustas e coordenadas, que garantam condições de concorrência mais justas, evitem a desindustrialização e assegurem a continuidade de uma indústria têxtil europeia forte, sustentável e inovadora.

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