Bebiana Rocha
Os Estados Unidos anunciaram que vão aplicar, a partir de 1 de agosto, uma tarifa de 30% sobre uma vasta gama de produtos oriundos da União Europeia, intensificando a tensão comercial transatlântica. A medida, classificada como punitiva, soma-se às tarifas já aplicadas sobre aço, alumínio e automóveis, e afeta bens que, no conjunto, representam cerca de 380 mil milhões de euros em importações anuais provenientes da UE.
Em reação, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, afirmou que “serão dados todos os passos necessários para salvaguardar os interesses da União Europeia”. No entanto, apesar da retórica firme, Bruxelas tem mantido contenção, apostando na via diplomática com vista à obtenção de um compromisso que minimize os danos económicos para o continente.
Recorde-se que a estratégia inicial da UE era alcançar um acordo de tarifa zero por tarifa zero, defendendo uma análise global da balança comercial transatlântica. Embora a UE registe um excedente significativo no comércio de bens com os EUA — cerca de 200 mil milhões de euros por ano — apresenta, por outro lado, um défice considerável em serviços, especialmente nos domínios tecnológicos, na ordem dos 150 mil milhões de euros anuais.
Apesar do escalar das tensões, Bruxelas tem evitado uma guerra comercial direta. A Comissão Europeia trabalha numa lista de tarifas retaliatórias sobre exportações norte-americanas, que inicialmente abrangia bens no valor de 95 mil milhões de euros, como aeronaves, bebidas alcoólicas e produtos alimentares. Esse valor foi, entretanto, revisto em baixa para 72 mil milhões, e permanece em análise.
A prudência europeia é acompanhada de uma estratégia ativa de diversificação de mercados, com vista a reduzir a dependência face aos Estados Unidos e a abrir novas oportunidades para as empresas europeias. Entre os esforços em curso destaca-se a conclusão do acordo com a Indonésia e o relançamento das negociações com países estratégicos.
A União Europeia tem vindo a acelerar o diálogo com Austrália, Nova Zelândia, Índia e os Emirados Árabes Unidos, além de ter alcançado anteriormente acordos comerciais com o México e os países do Mercosul (Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai). Bruxelas propôs ainda um aprofundamento das relações com os 11 países da região Ásia-Pacífico e o Reino Unido no âmbito do Acordo Abrangente e Progressivo para a Parceria Transpacífica (CPTPP).
Estes movimentos demonstram que, perante a agressividade tarifária norte-americana, a União Europeia está a agir com pragmatismo, procurando proteger o seu tecido económico sem comprometer a estabilidade das cadeias de valor globais. A Comissão Europeia tem procurado, não apenas conter os impactos imediatos da escalada comercial com os EUA, mas também reforçar a sua autonomia estratégica e resiliência externa.
Embora o desfecho das negociações com Washington permaneça incerto, o bloco europeu não está parado — e a aposta em novos mercados poderá revelar-se essencial para preservar a competitividade das empresas europeias num cenário global cada vez mais volátil.