13 outubro 25
Inovação

Bebiana Rocha

Estudo português propõe nova geração de coletes balísticos

Gilda Santos, investigadora do CITEVE, integrou na passada semana as sessões paralelas da 93.ª edição da The Textile Institute World Conference, onde apresentou o estudo “Development of military defence products: an innovative and sustainable design approach”, desenvolvido no âmbito da sua tese de doutoramento, orientada por Maria José Abreu do Departamento de Engenharia Têxtil da Universidade do Minho e por Filipa Marques da ATP – Associação Têxtil e Vestuário de Portugal. O projeto centra-se no desenvolvimento de coletes balísticos mais leves, ergonómicos e sustentáveis, com particular atenção à ergonomia do corpo feminino, frequentemente menos considerada no design de equipamentos de proteção individual.

“O sector da defesa enfrenta hoje situações mais complexas”, introduziu Gilda Santos, referindo-se ao multitasking atualmente exigido aos militares e à importância de criar equipamentos flexíveis, confortáveis e ajustados à morfologia de cada utilizador, assegurando a liberdade de movimentos e o conforto térmico, sem comprometer a proteção e segurança.

A metodologia seguida no estudo foi estruturada em três etapas principais. O primeiro passo consistiu no Body Scanning, processo que permite recolher 120 medidas antropométricas do corpo em apenas alguns segundos. Estes dados foram utilizados para avaliar o biotipo corporal e realizar uma digitalização completa dos dados biométricos do Exército Português.

Na segunda fase, os dados recolhidos foram analisados para modelar os protótipos de coletes, com especial foco na zona do tronco (frontal e dorsal), de forma a otimizar o fitting e a adaptação anatómica, em particular para o corpo feminino. Foram criados três avatares por género — representando as medidas mínima, média e máxima —, que serviram de base ao desenho digital em software CAD, ajustando o design às diferenças morfológicas e garantindo uma distribuição equilibrada do peso.

O terceiro passo envolveu a manufatura aditiva (modelação por deposição fundida), através da qual foram impressos protótipos em diferentes materiais e testados por militares, permitindo avaliar o equilíbrio entre peso, resistência e conforto, bem como o comportamento dos coletes em contexto real de utilização.

Segundo Gilda Santos, “a modelação por deposição fundida permite a experimentação com novos materiais de impressão, incluindo polímeros e compósitos de alto desempenho”. Foram testados vários materiais: o ácido poliláctico (PLA), de baixo impacto ambiental; o policarbonato (PC), com maior resistência mecânica; o poliuretano termoplástico (TPU), que oferece mais flexibilidade; e o álcool polivinílico (PVA), um polímero de suporte solúvel em água que facilita a remoção das estruturas de apoio. Entre os parâmetros estudados estiveram nomeadamente a temperatura de extrusão e da placa, velocidade de impressão, espessura de camada, geometria e densidade de preenchimento.

O projeto demonstrou também que a sustentabilidade pode e deve integrar a área da defesa. Um dos elementos apresentados foi o ciclo de desenvolvimento circular, que começa no design, passa pela seleção de materiais, prototipagem, validação, confecção, uso e tratamento em fim de vida, permitindo a recuperação e reaproveitamento da matéria-prima num novo processo produtivo.

Entre as conclusões, destacou-se que a integração da digitalização antropométrica, do design computacional e da manufatura aditiva permitiu o desenvolvimento de coletes balísticos ergonómicos, leves e sustentáveis, com ganhos significativos em ajuste, conforto e desempenho funcional — especialmente no caso dos modelos concebidos para o corpo feminino.

As tecnologias digitais mostraram ser decisivas para reduzir o tempo, os custos e o desperdício de recursos, comprovando que a inovação é um fator essencial de eficiência e sustentabilidade. Como sintetizou Gilda Santos, “a convergência entre as tecnologias digitais e o design centrado no utilizador abre caminho para a próxima geração de produtos de defesa sustentáveis e de alto desempenho.”

Partilhar