19 setembro 25
Economia

Bebiana Rocha

Estudo expõe rigidez laboral em Portugal

Um novo relatório voltou a colocar em evidência o debate sobre a chamada euroesclerose (um termo criado nos anos 80 para descrever a rigidez dos mercados de trabalho europeus e o seu impacto negativo na competitividade face a economias mais dinâmicas, como a dos EUA). O estudo, intitulado “Eurosclerosis at 40: Labor Market Institutions, Dynamism and European Competitiveness”, da autoria de Benjamin Schoefer, analisa a distribuição da permanência dos trabalhadores no mesmo emprego (tenure distribution) em vários países, comparando a Europa com os Estados Unidos.

Na prática, este indicador mostra quantos trabalhadores estão há pouco tempo numa empresa (empregos jovens, com menos de um ano) e quantos permanecem no mesmo posto durante décadas (empregos antigos, com mais de 20 anos).

As conclusões são claras: Portugal é um dos países com maior proporção de empregos de longa duração, com mais de 30% dos trabalhadores a permanecer na mesma empresa há mais de 20 anos. Nos Estados Unidos, esse valor não ultrapassa os 9%, sendo que cerca de 20% dos empregos são considerados jovens. Dentro da Europa, os países nórdicos apresentam os resultados mais equilibrados, refletindo mercados de trabalho mais dinâmicos.

O impacto no setor têxtil e vestuário

A indústria têxtil e vestuário é um dos setores que melhor ilustra os efeitos desta rigidez. Durante décadas, o modelo fortemente dependente de mão de obra revelou-se vulnerável perante a concorrência internacional, nomeadamente com a liberalização do comércio mundial de têxteis em 2005 e a ascensão dos produtores asiáticos de baixo custo.

Embora a modernização tecnológica, a aposta na inovação e a requalificação de trabalhadores tenham permitido dar passos significativos, a rigidez do mercado laboral português continua a ser um entrave à flexibilidade que a indústria exige.

Um desafio agravado pelo contexto atual

O problema ganha hoje nova relevância num momento em que o setor atravessa um período de instabilidade internacional, marcado pela forte concorrência asiática, pelas tarifas impostas pelos Estados Unidos durante a presidência Trump, pelo peso acrescido dos investimentos em sustentabilidade e por um cenário de consumo retraído nos mercados europeus.

Neste contexto, muitas empresas defendem que a legislação portuguesa deveria oferecer mecanismos mais ágeis e flexíveis de gestão do trabalho. A Associação Têxtil e Vestuário de Portugal (ATP) tem reiterado junto do Governo a necessidade de medidas que permitam às empresas responder rapidamente às flutuações do mercado, como o regime simplificado de layoff utilizado durante a pandemia, bem como regras mais ajustadas às realidades de produção e exportação atuais.

A conjugação entre a rigidez estrutural identificada no relatório e as pressões conjunturais da economia global colocam a indústria portuguesa perante um duplo desafio: garantir estabilidade, mas ao mesmo tempo dispor de flexibilidade suficiente para competir, inovar e resistir em tempos de procura enfraquecida. Nas próximas semanas traremos exemplos de empresas que ultrapassaram os desafios.

Partilhar