11 novembro 25
Eventos

Bebiana Rocha

Entre Linhas e Dados: o poder da informação no futuro da têxtil

O projeto Texp@ct voltou a assumir o seu papel de agregador do setor esta quinta-feira, com a realização do evento “Entre Linhas e Dados”, no auditório do CITEVE, em Vila Nova de Famalicão. O encontro juntou empresas e investigadores para discutir um tema incontornável: o valor dos dados e da inteligência artificial na tomada de decisão e na melhoria contínua das organizações.

A manhã foi marcada pelo painel “Dados para decidir, inteligência para agir”, moderado por Ivan Gomes, do CITEVE, que abriu a sessão com uma provocação bem-humorada: “Os dados são como o algodão, não enganam.” Mas, depressa, deixou claro que trabalhar com dados não é tarefa simples.

“Os dados servem para resolver problemas – mas não podem ser quaisquer dados. Têm de ser validados, de origem segura, e representar as variáveis certas. Tudo começa na aquisição: as empresas precisam investir tempo em especificar processos e identificar o que realmente impacta o seu negócio”, sublinhou.

Dados com propósito e maturidade dos processos

O debate contou com Nuno Dinis (Project Manager & Senior Developer da Riopele), Marco Barros (Engenheiro de Produto da JF Almeida) e Bruno Mota (Technical Lead & Project Manager da Inforcávado), num painel que colocou em cima da mesa a maturidade dos processos e a cultura de dados nas empresas têxteis.

“O processo é a base de tudo – não se digitaliza o caos”, afirmou Nuno Dinis, partilhando a experiência da Riopele na implementação de um módulo de gestão de reclamações e no projeto RKPI+, que permitiu reduzir a recolha de dados ao essencial. “Percebemos que havia muita informação recolhida ‘à merceeiro’, sem utilidade e que gerava ruído. Foi fundamental saber de onde vêm os dados, tratá-los e armazená-los corretamente. O projeto mostrou que os colaboradores podem confiar nos dados.”

Também Bruno Mota, da Inforcávado, destacou a importância da interoperabilidade dos sistemas e de uma linguagem comum no setor. “O projeto Texp@ct ajudou a traduzir a informação dos ERP para uma semântica partilhada. Assim, todos conseguem interagir e compreender os dados, o que é essencial para a segurança e soberania da informação.”
Segundo o próprio, essa integração já permite, por exemplo, requisições automáticas de materiais, reduzindo o erro humano.

Transformar dados em conhecimento útil

Para Marco Barros, da JF Almeida, o verdadeiro desafio está em transformar o volume de dados em informação útil. “De que vale ter as temperaturas de secagem se no final o artigo está mal? É preciso perceber o que os dados dizem. Ter muitos dados não serve de nada se não conseguirmos espremer sumo deles”, alertou. O engenheiro de produto acrescentou que as perguntas certas são determinantes no desenvolvimento dos artigos, e que ferramentas como o DPP (Digital Product Passport) vão tornar-se decisivas. “Quem tiver melhores dados terá melhor score no DPP. A diferença entre produtos vai estar na qualidade e fiabilidade dos dados.”

Nuno Dinis reforçou a ideia, lembrando que o essencial é a empresa reger-se por um conjunto restrito de indicadores-chave. “Não é preciso medir tudo. O importante é definir cinco a dez indicadores relevantes e trabalhar para os melhorar.” E acrescentou que a Riopele tem vindo a explorar a aplicação da Inteligência Artificial em processos ETL (Extrair, Transformar, Carregar) e no conceito de Inteligência Aumentada.

Dashboards, literacia e cultura de dados

O painel convergiu na importância da literacia dos dados e na cultura de colaboração dentro das empresas. “Os dashboards não trazem rendimento se não responderem a problemas reais. Precisam ser intuitivos, rápidos de interpretar”, apontou Bruno Mota.

Marco Barros concordou, sublinhando que os dashboards devem permitir prever modelos e antecipar desvios, fornecendo indicadores claros de desempenho. “Os processos na têxtil são desafiados diariamente, e os dados devem ajudar-nos a agir, não apenas a observar.”

A par disso, a criação de uma cultura de dados foi destacada como essencial. “O ADN das empresas deve ser o da melhoria contínua. É preciso envolver os colaboradores de forma transparente e fazer com que todos contribuam – da tecelagem à tinturaria – para o enriquecimento dos dados”, defendeu Marco Barros.

A democratização dos dados como futuro

A encerrar a sessão, Bruno Mota deixou um olhar sobre o futuro: “A grande evolução dos dados será a sua democratização. Fornecedores, clientes, trabalhadores e parceiros têm de ser capazes de utilizar e compreender os dados das empresas.” E Nuno Dinis concluiu com uma reflexão sobre maturidade: “O importante é que os dados tragam valor acrescentado. Só assim se tornam maduros.”

Entre linhas e dados, ficou a certeza de que o futuro do setor têxtil português passará por processos bem definidos, dados fiáveis e uma cultura empresarial cada vez mais orientada para o conhecimento e para a inteligência coletiva.

Partilhar