01 julho 25
Sustentabilidade

Bebiana Rocha

Encerramento do projeto RDC@ITV reforça urgência da descarbonização na ITV

O projeto RDC@ITV – Roteiro para a Descarbonização da Indústria Têxtil e Vestuário teve ontem a sua sessão de encerramento, no auditório do CITEVE, num evento marcado pela reflexão estratégica sobre o futuro sustentável do setor.

O primeiro painel focou-se na importância da descarbonização para a ITV nacional, contando com intervenções de Mário Jorge Machado, presidente da ATP – Associação Têxtil e Vestuário de Portugal, e de César Araújo, presidente da ANIVEC, sob moderação de António Braz Costa, diretor-geral do CITEVE.

Braz Costa abriu o debate com uma nota crítica sobre o contexto internacional: “Nós, europeus, definimos o Green Deal como um dos grandes objetivos, mas a sustentabilidade económica é mais importante. Os Estados Unidos seguem uma lógica ‘Drill Baby, Drill’. Não conseguimos guiar todos os blocos a seguirem o mesmo caminho”, afirmou, lançando o mote para a conversa.

Mário Jorge Machado partilhou da mesma visão, referindo que a abordagem política americana tem desvalorizado a urgência da descarbonização. “Em tempo de guerra não se limpam armas. As preocupações com a sustentabilidade foram colocadas para segundo plano”, observou. Acrescentou ainda que o tema perdeu visibilidade junto do consumidor: “Hoje há muito ruído. A descarbonização saiu da corrente de comunicação”. Apesar disso, sublinhou que as empresas continuam a fazer o seu caminho, investindo e assumindo custos sem o devido reconhecimento. Deu como exemplo a Adalberto, que desde 2017 utiliza exclusivamente energia proveniente de fontes renováveis e paga cerca de 15 mil euros anuais por uma certificação que o comprova.

Apesar dos desafios, ambos os oradores concordaram na necessidade de prosseguir com a transição verde. “Os processos de melhoria têm de acontecer, as empresas devem continuar a comunicar os seus esforços. Este caminho deve continuar a ser defendido”, reforçou o presidente da EURATEX.

César Araújo, por sua vez, alertou para a falta de visão estratégica. “Somos pouco ambiciosos e pensamos micro”, afirmou. Destacou que Portugal, com uma das melhores indústrias têxteis da Europa, deve assumir um papel mais relevante no contexto europeu. Criticou ainda a lógica do consumo rápido: “Hoje a roupa tornou-se um produto descartável. Os países terceiros invadiram a Europa”. Para o líder da ANIVEC, é fundamental reposicionar o setor como uma indústria que “vende sonhos”, sublinhando que “as empresas não podem abandonar o caminho que já fizeram – devem continuar, com mais solidariedade coletiva”.

A discussão avançou para o tema das políticas públicas, com apelos a respostas claras de Lisboa e Bruxelas. Mário Jorge Machado defendeu a necessidade de autonomia energética a preços competitivos, apontando que “a competitividade estará no preço do megawatt/hora”. Para garantir essa sustentabilidade, defende que a energia deveria situar-se na ordem dos 30-35€/MWh. Referiu novamente o exemplo da Adalberto, que já produz parte da energia que consome, a um custo de cerca de 20€/MWh. “A grande política tem de ser produzir perto de quem consome e investir em baterias para armazenar energia”, concluiu.

Já César Araújo apontou como prioridade o fim do regime de minimis, que, segundo afirmou, tem alimentado uma “praga” de encomendas com origem duvidosa, associadas a fraudes fiscais. Defendeu ainda a criação de uma indústria europeia de reciclados, baseada em matérias-primas de qualidade. “O reciclado é o mais importante. Os países mais ricos são os que têm matéria-prima. Temos de criar um ecossistema nacional que permita à indústria usar essas matérias-primas”. E concluiu: “Temos de antecipar os acontecimentos e falar mais uns com os outros”.

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