Bebiana Rocha
O preço das roupas em Portugal ainda não inclui os custos de reciclagem, ao contrário do que acontece em França. Mário Jorge Machado, presidente da ATP – Associação Têxtil e Vestuário de Portugal, disse no programa da Renascença ‘Dúvidas Públicas’ que daqui a um ano ou dois o preço das roupas pode vir a aumentar entre 10 e 30% para refletir esse custo, a percentagem dependerá do tipo de tecido e das cores.
O representante associativo aproveitou o tempo de antena para denunciar o critério do preço mais baixo praticado na atribuição dos concursos públicos, sobretudo na área da defesa. Deu o exemplo do fardamento do exército português que não é nem português nem europeu. “Se por ventura tivermos algum problema com esses países podemos cair na situação de dizer que não podemos começar a guerra enquanto o nosso inimigo não nos mandar o equipamento”, alertou.
As compras de baixo valor fora do espaço comunitário, que atingiram valores recorde o ano passado, estão também entre as preocupações do presidente. Os números publicados foram de 4,6 mil milhões de euros, sendo que mais de 90% das encomendas vêm da China. Segundo Mário Jorge Machado estes números estão a ser dados por baixo – “há números que apontam para 40 aviões por dia com encomendas”.
Este aumento tem repercussões profundas na indústria têxtil nacional e europeia, a Associação Têxtil e Vestuário de Portugal, juntamente com a imprensa, está a tentar conduzir uma investigação que permita detalhar o impacto que esta situação tem dentro da estrutura produtiva têxtil. “Há algumas semanas através um jornal americano fez algum trabalho de investigação e conseguiu associar uma série de encerramentos de empresas nos EUA a este tipo de plataformas”, disse referindo-se à Shein.
A ATP está também associada a uma outra investigação, que pretende comprovar que os produtos que entram na Europa de países terceiros não cumprem com a legislação nem com as normas de segurança. Em parceria com o CITEVE, estão a ser analisadas peças vendidas por plataformas chinesas, com especial foco na utilização de produtos químicos durante o fabrico, que podem ser cancerígenos.
O podcast pode ser ouvido na integra aqui, contando ainda com declarações sobre os salários na indústria têxtil, a automatização, exemplos de sustentabilidade e inovação, a visão do presidente sobre as taxas e o cumprimento das metas de reciclagem.