Maria Monteiro
Fazendo uma retrospetiva do seu percurso, Mónica Neto admite que foi a moda que a escolheu e não a própria a escolher a moda. Em 2007, deu o seu primeiro passo, enquanto estagiária da ANJE, na comunicação de uma edição do Portugal Fashion. Cerca de 11 anos depois, assumiu a direção do evento.
Desde então, lutar por maior apoio à moda nacional é sua responsabilidade. No fundo, o objetivo de Mónica Neto é “continuar a posicionar o Portugal Fashion como uma plataforma globalmente reconhecida e competitiva, ímpar na capacidade de conciliar uma moda de autor cada vez mais forte, que tem na conexão com todo o hub industrial português um valor acrescentado sem qualquer termo de comparação a nível internacional”, diz ao T Jornal.
Como descreveria o papel da mulher na ITV?
A indústria da moda nacional distingue-se, sobretudo, pela conjugação da tradição do “saber fazer” com a capacidade de inovar e competir globalmente. E sem consultar quaisquer estudos ou estatísticas, arrisco dizer que são as mulheres as grandes responsáveis pela conservação deste luxo dos tempos modernos que é o “saber fazer”, assegurando a sua transição intergeracional e permitindo a muitos empresários alavancar, a partir daí, uma indústria competente, inovadora e sustentável. Além disso, as mulheres portuguesas têm no seu ADN a garra que uma indústria tão competitiva globalmente nos obriga a ter. Resiliência, criatividade e convicção na hora de transformar problemas em soluções são também fatores que o perfil feminino, e o perfil da mulher portuguesa em particular, aportam a este sector.
Que vantagens há em ser mulher na ITV?
O tema da igualdade de género no mercado de trabalho sempre me provoca “mixed feelings”, até porque o mérito, a competência e a visão devem ser sempre as vantagens de qualquer profissional, neste ou noutro sector. Mas se tivesse de apontar alguma vantagem tipicamente mais associada ao universo feminino seria, talvez, o know-how, a clássica competência no multitasking e a maior propensão para a empatia, tão fundamental para se fazer negócios nacionais e internacionais. E, como disse anteriormente, num país de descobridores e fazedores, as mulheres portuguesas distinguem-se na capacidade de tornar a moda portuguesa e a indústria ITV diferenciada e competitiva. Sem dúvida que se deve a nós, mulheres, grande parte do “je ne sais quoi” deste sector.
Qual o maior desafio em ser mulher na ITV?
Com pena admito que a indústria da moda tende a ser levada com mais seriedade e profissionalismo quando a liderar processos estão homens. A minha experiência nesta área, sobretudo em Portugal, leva-me a crer que o preconceito típico da superficialidade da moda é maior quando em causa está uma marca, um processo ou um problema liderado por mulheres. E isto sente-se muito quando o tema é a criação de marca ou as apostas mais irracionais em comunicação, criatividade e “awareness”.
Alguma mulher que a inspire na ITV ou no negócio da moda?
Não querendo correr o risco de escolher apenas uma referência entre as muitas mulheres que, todos os dias, fazem a diferença na indústria da moda em Portugal, prefiro expressar uma inspiração internacional: Cecilie Thorsmark, CEO da Copenhagen Fashion Week. Além de partilhar com a Cecilie a base de carreira iniciada na comunicação de um projeto de moda, admiro o trabalho que tem feito, sustentado sobretudo numa estratégia de marketing inovadora e numa visão pioneira capaz de fazer do posicionamento sustentável o valor acrescentado que permitiu à fashion week nórdica atingir um novo patamar de referência global.
Alguma recomendação para jovens mulheres que estejam a entrar no mercado de trabalho?
Esta indústria precisa muito de jovens mulheres, altamente qualificadas, com visões modernas e mais focadas na promoção do “created in” do que no “made in”. E o meu conselho passa sempre por acreditarem que a consistência do nosso trabalho acaba por fazer a diferença, mesmo que muitas vezes tenhamos de começar por dar o dobro para obter metade. Abrir horizontes, conhecer mercados internacionais e confiar na chamada intuição feminina são também conselhos inevitáveis.