Elas na ITV I: qual é lugar da mulher na indústria?

Um dos indicadores com maior impacto na indústria têxtil reside no facto de cerca de 70% do emprego no sector ser assegurado por mulheres – ou seja, cerca de 88 mil pessoas. Tradição e especificidade parecem explicar este desequilíbrio face aos homens – que não se repete em quase nenhum outro sector. Mas, neste dia que alguém designou como o ‘Dia da Mulher’, a pergunta que importa fazer é: que lugar ocupa esta imensa maioria?

Segundo dados do Instituto Nacional de Estatísticas (INE, para dados de 2022), a taxa de empregabilidade dos homens e das mulheres em Portugal é liderada pelos homens (79%), com as mulheres (73%) a serem relegadas para uma posição que, sendo inferior, não é ‘muito inferior’. Neste contexto, o facto de as mulheres representarem 70% da força de trabalho do sector têxtil assume uma posição ainda mais relevante.

Mas é no que tem a ver com os cargos de liderança que as diferenças são mais acentuadas – sendo também aí que estão presentes as maiores evoluções. Uma conversa com qualquer mulher que assuma uma posição de topo na indústria têxtil – como sucederá provavelmente com todas as outras – permite concluir que nem todas as barreiras à igualdade de oportunidades foram deitadas abaixo. E ainda persistem alguns pré-concebimentos herdados de séculos passados.

Mas tudo isso está a desfazer-se: há cada vez mais empresas têxteis lideradas por mulheres ou com mulheres no topo dos conselhos de administração. E já não há nenhum constrangimento quando é uma mulher que aparece a liderar seja que tipo for de projeto empresarial. A não ser, evidentemente, que as mulheres sejam confrontadas com culturas que ainda não deram o ‘salto’ para a modernidade. Afinal, ainda só passaram três anos (foi em abril de 2021) desde o dia em que, de visita a Ancara, capital da Turquia, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, descobriu embaraçada que o protocolo que organizava um encontro com o presidente Recep Erdogan – e onde também estava o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel – não lhe havia reservado uma poltrona para que se sentasse junto dos homens.