Bebiana Rocha
A área da defesa esteve ontem em debate na Exponor, durante o Future Summit, uma iniciativa organizada pela Associação Empresarial de Portugal (AEP), pela Associação dos Industriais Metalúrgicos, Metalomecânicos e Afins de Portugal (AIMMAP), e CEiiA – Centro de Engenharia e Desenvolvimento, no âmbito da EMAF – Feira Internacional de Máquinas, Equipamentos e Serviços para a Indústria. O evento reuniu figuras de relevo do tecido empresarial nacional para refletir sobre as potencialidades da indústria da defesa e os desafios que se colocam à Europa e a Portugal.
Isabel Furtado, CEO da TMG Automotive e Presidente da Administração do CEiiA, sublinhou que a defesa representa um importante motor de inovação e pode ter um forte impacto multiplicador na economia.
A responsável defendeu uma visão estratégica de duplo uso para os investimentos nesta área: “a defesa deve servir propósitos militares, mas também ter aplicação civil”. Um caminho onde o setor têxtil, segundo afirmou, tem já provas dadas e ainda grande margem de crescimento.
“O setor têxtil tem grandes oportunidades aqui”, referiu, destacando a capacidade nacional para desenvolver produtos de elevado valor acrescentado, como o fardamento técnico e avançado — exemplo disso são os tecidos de camuflagem.
Isabel Furtado defendeu ainda a necessidade de criar cadeias de valor completas: “Portugal pode evoluir para um país que desenvolve e industrializa produtos próprios. Ser um hub de inovação de duplo uso.”
Na abertura do Future Summit, Luís Miguel Ribeiro, Presidente da AEP, contextualizou a atual conjuntura internacional e apontou os principais riscos à escala global, destacando as tensões geopolíticas e os conflitos armados.
“O mundo vive um contexto volátil, onde no topo dos riscos estão os conflitos armados”, afirmou, alertando para a fragmentação em três grandes blocos e para o posicionamento estratégico da China, com destaque para o controlo de recursos críticos como as terras raras.
Com a crescente pressão para aumentar o investimento na área da defesa — nomeadamente com a meta de 5% do PIB sugerida pelos EUA — Luís Miguel Ribeiro reforçou a urgência de Portugal cumprir, pelo menos, o compromisso de atingir os 2%.
“Temos de crescer muito, reforçar o nosso investimento, as nossas exportações”, alertou, reconhecendo que o desafio demográfico e a burocracia são obstáculos a ultrapassar. “A área da defesa é importante e estou convicto que os nossos empresários vão superar este desafio. Mas nada se faz sem o apoio das políticas públicas.”
Também Vítor Neves, Presidente da AIMMAP, partilhou a sua visão, afirmando que “hoje, mais do que nunca, o setor da defesa afirma-se como um motor de inovação” e apelando à Europa para que assuma a sua soberania estratégica.
O Future Summit veio, assim, reforçar o papel estratégico da indústria da defesa no desenvolvimento económico, tecnológico e industrial de Portugal, destacando-se como uma oportunidade de posicionamento competitivo a nível europeu e global.