Bebiana Rocha
A CLS está a poucos meses de concluir a sua transição para um novo centro industrial em Mazarefes, Viana do Castelo. A empresa, especializada em equipamentos de proteção individual, está a trabalhar num armazém robotizado e semiautomático, integrado com tecnologias de última geração para gestão de fluxos logísticos, otimização de armazenamento e monitorização digital de processos.
Diogo Amorim, engenheiro informático e responsável pelo desenvolvimento e implementação das novas tecnologias, afirma que o armazém “foi pensado de raiz para automatizar fluxos, reduzir desperdícios operacionais e garantir rastreabilidade total em tempo real”. “Estimamos que, em regime estabilizado, o sistema consiga funcionar com cerca de 80% de decisões logísticas automatizadas”, clarifica.
A base do sistema assenta em nove equipamentos automáticos Kardex, configurados com layouts de prateleiras altamente otimizados com base em algoritmos de rotação e densidade de picking, pensados para armazenar stock e garantir autonomia durante um mês completo de vendas, com o mínimo de layouts distintos e máxima densidade de armazenamento.
“Integramos os fluxos com o nosso ERP, com sincronização direta de quantidades mínimas, reposição e prioridades de separação”, explica o responsável. O objetivo com este investimento é, sem dúvida, ter um armazém maior e também mais inteligente: “Trata-se de controlar melhor, responder mais depressa e errar menos”, clarifica, apontando como maior desafio a escala.
Toda a lógica de fluxos logísticos foi desenvolvida internamente, permitindo: algoritmos de encaixe automático de recipientes, com rotação e empilhamento controlado; previsão da rotatividade do stock com base em vendas reais; validação de encaixes físicos de produto por tipo de caixa; geração dinâmica de ficheiros de picking, reposição e abastecimento por operador e máquina; monitorização da ocupação do espaço útil; integração total com o ERP, garantindo sincronização de stocks, mínimos e ordens automáticas; preparação de relatórios semanais de performance de forma automática.
“Foi também criado um módulo de simulação visual para testar virtualmente alterações de layout”, explica. “Com a estrutura que montámos, temos base para triplicar a operação sem triplicar o caos”, resume. As previsões apontam que a CLS Brands consiga reduzir entre 40 a 50% o tempo médio de preparação de encomendas; uma diminuição dos erros de picking para margens inferiores a 0,1%, por via da rastreabilidade digital por operador e máquina; e ganhos de 30% em eficiência de armazenamento.
“Esta transição vai permitir às nossas equipas focarem-se mais em tarefas analíticas, de decisão e suporte técnico”, esclarece ao T Jornal. “Implementámos um plano de formação de equipas – algumas ações já foram, inclusive, dadas – orientado por área (logística, compras, IT, comercial), com acompanhamento direto e simulações práticas.”
A administração prevê ainda a criação de novas funções nas áreas de: “gestão de dados logísticos e parametrização de sistemas; operação e manutenção de armazéns robotizados; desenvolvimento e suporte de ferramentas internas; e criação de conteúdos técnicos para marketing e comunicação digital”.
Este também é um passo importante da CLS Brands na exploração das potencialidades da Inteligência Artificial. Está a ser usada para previsão de necessidades de stock com base em padrões de venda e sazonalidade; otimização de layouts de prateleiras por densidade e rotatividade; deteção de padrões de erro ou desperdício logístico; e simulação de cenários de encaixe e ocupação física com base em variações de consumo.
“Toda a base algorítmica e os modelos de previsão foram desenvolvidos internamente pela nossa equipa de programação, com recurso a linguagens como Python, integração direta com o ERP (Primavera) e ligação a módulos de visualização e simulação. A independência tecnológica foi um dos pilares desde o início: construir soluções à medida, com capacidade de adaptação rápida ao nosso negócio”, conclui.
Em termos de aprendizagens, Diogo Amorim destaca três pontos que podem servir de referência a outras empresas: “A lógica do sistema deve ser desenhada para servir a operação real; a programação, logística e visão de negócio têm de caminhar em conjunto; é preferível começar com uma base simples, bem definida e fiável, e ir sofisticando à medida que os dados e as equipas amadurecem”.