Bebiana Rocha
Na 93.ª edição da The Textile Institute World Conference, Andrea Ferris, cofundadora da CiCLO Textiles, apresentou uma solução inovadora destinada a combater a poluição gerada pela fragmentação das fibras sintéticas – uma das principais fontes de microplásticos nos ecossistemas. A tecnologia CiCLO® permite que o poliéster mantenha a sua durabilidade durante o uso, mas se biodegrade naturalmente quando libertado no ambiente, sem comprometer a sua capacidade de ser reciclado no fim de vida.
O processo baseia-se na adição de pellets certificados Oeko-Tex ECO Passport a poliéster ou poliamida, numa dosagem de 2%. Estes aditivos ativos são incorporados durante a extrusão, criando estruturas internas que facilitam a biodegradação quando as fibras entram em contacto com determinados microrganismos. As fibras resultantes podem ser misturadas com algodão ou outras fibras e fiadas em fios open-end ou ring spun, que são depois transformados em malhas ou tecidos que mantêm as propriedades de durabilidade e reciclabilidade, mas são biodegradáveis.
Os ensaios laboratoriais, conduzidos por entidades independentes segundo os métodos ASTM D6691, D5988 e D5210, demonstram resultados expressivos. Em lamas de tratamento de águas residuais, o poliéster CiCLO atingiu 90% de biodegradação em 2,6 anos, enquanto o poliéster convencional não apresentou degradação. Ao fim de 3,2 anos, o poliéster comum degradou-se apenas 3%, comparado com 91% do CiCLO no solo. Em ambiente marinho, após 3,7 anos, o poliéster tradicional alcançou apenas 5% de degradação, face a 94% do CiCLO. Testes complementares confirmaram que a solução não apresenta toxicidade para a vida marinha.
“Até 18 milhões de fragmentos de fibras podem ser libertados em cada ciclo de lavagem”, sublinhou Andrea Ferris, lembrando que o foco da empresa está precisamente nos sintéticos e na poluição que provocam. “O nosso objetivo é que não fiquem para sempre no ambiente.” A cofundadora destacou ainda que a tecnologia é rastreável, escalável e já foi testada por marcas como a Champion e a Billabong.
A importância desta inovação ganha relevo face ao contexto global: o poliéster representa atualmente 57% de todas as fibras têxteis, totalizando mais de 71 milhões de toneladas produzidas em 2023 (segundo o Materials Market Report 2024 da Textile Exchange) – e os volumes continuam a crescer.
Mesmo quando reciclado, o poliéster permanece um plástico não biodegradável, que pode persistir indefinidamente no ambiente. Por isso, a poluição por microfibras – pequenas partículas libertadas dos têxteis sintéticos – é hoje a forma mais prevalente de microplástico a acumular-se nos ecossistemas, com impactos sobre a biodiversidade, a saúde humana e o clima.
Andrea Ferris defendeu que a responsabilidade alargada do produtor deve ser parte da solução, ao estender o compromisso das empresas para além da reciclagem e incluir também o design e o ciclo de vida das peças. A União Europeia, recordou, está já a avançar com políticas que incentivam a transição para têxteis circulares, com foco em processos de produção mais sustentáveis, tecnologias de lavagem industrial e filtros capazes de reter microfibras.