14 outubro 25
Sustentabilidade

Bebiana Rocha

Certificações ainda têm baixa visibilidade entre consumidores portugueses

Maria José Abreu, Diretora do Programa Doutoral em Engenharia Têxtil da Universidade do Minho, participou na passada semana na The Textile Institute World Conference, onde apresentou uma comunicação dedicada ao papel das certificações na confiança do consumidor e na prevenção do greenwashing.

Sob o título “How Portuguese Consumers Perceive Sustainability Certifications”, a investigadora começou por sublinhar que “a educação é muito importante e o greenwashing é um problema real”, antes de apresentar o estado da arte e a metodologia do estudo.

A investigação adotou uma metodologia quantitativa, descritiva e exploratória, baseada num questionário online aplicado em agosto de 2025. No total, foram recolhidas 135 respostas, das quais 127 foram validadas. Entre os participantes, 77% eram do sexo feminino, 72% tinham entre 18 e 34 anos e 66% possuíam formação superior.

Os resultados revelam que as certificações continuam a ter baixa visibilidade em Portugal: 46,5% dos inquiridos afirmaram nunca as ter notado, e 24,4% disseram não saber o que garantem. Apenas 10,2% afirmaram encontrá-las com frequência. Em relação às etiquetas, 37,8% confia apenas ocasionalmente, enquanto 39,4% confia raramente nas marcas.

Quando confrontados com práticas de greenwashing, apenas 25,2% dos consumidores disseram ter tomado alguma ação, como deixar de comprar uma determinada marca, enquanto 55,9% se mostraram neutros perante a situação.

O estudo incluiu ainda uma experiência sobre a perceção da sustentabilidade através da comparação entre duas marcas: a portuguesa ISTO. e a Shein. A marca portuguesa foi positivamente percecionada, com destaque para a transparência e rastreabilidade das suas práticas, enquanto a Shein foi avaliada negativamente, associada a declarações vagas e à reputação de fast fashion.

Para Maria José Abreu, a principal mensagem a retirar é clara: “a credibilidade depende tanto da mensagem como da reputação da marca”. Quanto à disposição para pagar mais pela sustentabilidade, 72,4% dos inquiridos afirmaram que só o fariam se houvesse uma certificação independente que comprovasse as práticas sustentáveis — demonstrando que o preço, por si só, não é suficiente para gerar confiança.

Os resultados apontam ainda que o consumidor português está informado e atento, mas existe um desfasamento entre a consciência e a ação: nem sempre há uma escolha efetiva pelo produto mais sustentável. Ainda assim, o estudo confirma que Portugal é já percebido como um país credível, capaz de se diferenciar pela transparência, proximidade e boas práticas na indústria têxtil.

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