Bebiana Rocha
O CeNTI – Centro de Nanotecnologia e Materiais Técnicos, Funcionais e Inteligentes – está a desenvolver, no âmbito do projeto europeu PRIMED, alternativas mais sustentáveis à sílica sintética convencional. Em comunicado, o Centro anuncia a criação de uma bio-sílica obtida a partir de biomassa, cujo principal fator diferenciador reside nas suas propriedades multifuncionais, nomeadamente repelência à água, retardância de chama e resistência microbiana.
“As partículas de bio-sílica modificada podem ser integradas em produtos finais ou utilizadas como aditivos em formulações de polímeros, espumas e revestimentos de superfície”, refere o CeNTI, sublinhando que estas características abrem potencial de aplicação em áreas como a indústria automóvel, colchões e estofos.
Segundo Mariana Cardoso, investigadora do CeNTI, “podem ser utilizados quaisquer resíduos agroindustriais ou agroflorestais ricos em silicatos. No CeNTI, já testámos vários tipos de resíduos, sendo que a casca e a palha de arroz foram, até ao momento, aqueles que permitiram obter maior rendimento de produção”.
Ao T Jornal, Andreia Monteiro, International Program Manager do CeNTI, destaca o papel estratégico da instituição no consórcio europeu. “O CeNTI, como única entidade portuguesa envolvida no projeto, tem a missão de alavancar Modelos de Negócio Circulares para a Bioeconomia. Para isso, tem atuado em duas frentes complementares: a demonstração e validação técnica da utilização de biomassa como matéria-prima secundária, com aplicação industrial, e a dinamização de uma Agenda Partilhada de Especialização Inteligente, para promover a Bioeconomia na Região Norte Litoral de Portugal, onde o CeNTI se encontra.”
No âmbito do PRIMED, o Centro tem estado particularmente envolvido na implementação do Bio-Silica Lab, um dos cinco Laboratórios Vivos do projeto. “Este Laboratório Vivo é dedicado à extração e funcionalização de sílica obtida pelo tratamento de biomassa e conta com a colaboração direta de duas empresas previamente selecionadas por candidaturas abertas (Open Calls): uma empresa de referência no setor têxtil e outra especializada em estruturas tridimensionais de biotecidos”, explica Andreia Monteiro.
Nestes contextos industriais, estão a ser estudados e aplicados bioaditivos funcionais à base de bio-sílica nos ciclos produtivos das empresas parceiras, promovendo a validação da biomassa como matéria-prima secundária e a sua integração em novas cadeias de valor. As empresas interessadas em testar a incorporação desta bio-sílica nos seus produtos podem contactar diretamente o CeNTI, que se disponibiliza também para realizar testes laboratoriais, incluindo ensaios com cinzas de caldeiras de biomassa.
Paralelamente, o CeNTI tem assumido um papel ativo na construção e dinamização de uma Agenda Partilhada para a promoção da Bioeconomia na Região Norte Litoral. “Esta iniciativa está a ser desenvolvida em estreita colaboração com entidades públicas de âmbito regional e nacional ligadas à gestão territorial e ambiental, reforçando e complementando as linhas de especialização inteligente já em curso e alinhando esforços para acelerar a transição para modelos mais sustentáveis e competitivos”, acrescenta a responsável.
Até dezembro de 2026, prazo de conclusão do projeto, o objetivo passa por, em conjunto com diversos stakeholders, “delinear as linhas orientadoras para uma plataforma colaborativa e definir um roadmap de especialização, aproximando os biorrecursos do setor industrial e potenciando a criação de novas cadeias de valor”, sublinha Andreia Monteiro.
Iniciado em 2024, o projeto PRIMED envolve 13 entidades de oito países, sendo o CeNTI a única instituição portuguesa participante. O consórcio está focado na conversão de biorresíduos subutilizados dos setores primários em produtos de base biológica, através de biorrefinarias avançadas, destinados a múltiplas aplicações de elevado valor acrescentado.
No Laboratório Vivo do CeNTI – LLab2 Bio-Silica Lab, são extraídas partículas de sílica de base biológica a partir de resíduos agroindustriais, posteriormente modificadas para integrar diferentes funcionalidades. Os produtos finais incluem biomateriais como nanopartículas funcionais de sílica, fibras ou polímeros e revestimentos funcionais, reforçando o potencial de Portugal e da União Europeia na valorização de biorresíduos e no desenvolvimento de materiais inovadores, sustentáveis e competitivos no contexto da bioeconomia circular.