23 agosto 17
Marca

Jorge Fiel

Blusas brancas + vestidos mutantes = Misci

Camisas brancas e vestidos transformáveis – se tivéssemos de resumir em quatro palavras a alma da Misci, esta seria,  provavelmente, a melhor formulação. Mas sem limitações de espaço, teríamos de acrescentar  “bom corte” e “boa costura” à descrição da marca de moda para senhora inventada por duas barcelenses, Izilda e Joana, que se apresentou ao mundo em maio, na Pure London, e que após uma passagem pela Berlim Fashion Week também em Copenhague, na CIFF.

O nome da marca – Misci – foi escolhido por sintetizar a história da sua criação, por obra e graça de duas mulheres diferentes, que mal se conheceram logo se uniram na construção deste projeto comum, que tem a confiança (“build on trust”) como lema e o apoio de uma terceira pessoa (um investidor).

“Misci quer dizer duas coisas heterogéneas que juntas fazem algo de homogéneo”, explica Izilda Garcia, 39 anos, uma licenciada em Gestão de Empresas pela UMinho que teve o seu primeiro emprego na Sonae, onde debutou no planeamento e controlo de gestão antes de se juntar à equipa do cartão Continente.

“Trabalhar na Sonae foi, para mim, como tirar um segundo curso”, conta Izilda, que em 2006, por ocasião do nascimento de Mariana (a primeira das suas duas filhas), decidiu abrandar o ritmo, trocando a velocidade furiosa que carateriza o dia a dia do maior grupo privado português por um lugar mais calmo a tratar dos sistemas de informação da fábrica têxtil de um tio.

Com Mariana já a caminho da escola, Izilda voltou a por o pé no acelerador da sua carreira profissional, indo trabalhar com António Vila Nova como supply chain manager da Tiffosi, onde se demorou cinco anos – até que em 2015 nasceu Eduarda, a sua segunda filha, e ela voltou a por o pé no travão.

Mãe era a primeira ocupação de Izilda quando um amigo comum lhe disse que tinha de conhecer Joana Brochado – e as apresentou. “É incrível. Morávamos em Barcelos, a 500 metros uma da outra, e não nos conhecíamos”, diz. Palavra puxa palavra e não demorou muito até ambas decidiram embarcar na aventura da Misci.

As duas novas amigas tinham perfis e percursos bem diferentes – mas complementares. Izilda é gestora. Joana, 45 anos de vida e 25 de têxtil, é designer, com o curso feito na Gudi e além de uma larga experiência em diferentes empresas (a Pure Cotton foi o último posto a trabalhar por conta de outrem) tinha no curriculum a construção de uma marca de roupa infantil (Xiribita).

Após mais de um ano de aturada preparação, tratando do naming, branding, conceito, estratégia de distribuição, etc, etc, a marca emergiu finalmente à luz do dia, no mês dos milagres, em que o papa Francisco veio a Fátima e canonizou dois pastorinhos, o Benfica conquistou um inédito tetra e Salvador Sobral triunfou na Eurovisão.

Às camisas brancas, a primeira ideia para a Misci, seguiu-se o conceito do little black dress mutante, todo um programa inspirado nas Mariquitas com que brincavam na infância. “Acrescentando punhos, golas, barras, rendas, transformamos o vestido preto em algo de glamoroso que vai mudando”, explica Izilda.

A manualidade e a reinterpretação do crochet são outras componentes importantes do ADN da Misci. “Todas as peças são integralmente fabricadas em Portugal, numa rede constituída por pequenas fábricas e artesãs independentes, entre as quais se contam presas de Santa Cruz do Bispo”, afirma Izilda.

Cada coleção inspira-se num livro e conta uma história. A primeira baseia-se no Gift from the sea, de Anne Morrow Lindbergh. A segunda no Lago perdido, de Sarah Addison Allen. “A nossa imaginação não tem limites”, conclui Izilda Garcia.     

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