13 outubro 25
Sustentabilidade

Bebiana Rocha

Be@t Show estreia-se com foco na bioeconomia e na simbiose industrial

O Be@t Show estreou na passada terça-feira com um forte enfoque na definição de bioeconomia e na importância da simbiose industrial. Carla Silva, investigadora do CITEVE, apresentou ao público uma bancada repleta de resíduos naturais com potencial para se tornarem matéria-prima da indústria têxtil e vestuário.

Entre os exemplos apresentados destacou-se a borra de café, utilizada para conferir propriedades de neutralização de odores às peças desportivas, e a casca de ovo, rica em carbonato de cálcio, capaz de aumentar a resistência dos substratos têxteis. Seguiram-se o dreche, subproduto da indústria cervejeira, com compostos antioxidantes que protegem contra a radiação ultravioleta, e ainda as folhas de bananeira e de ananás, das quais se extraem fibras, e as folhas de eucalipto, que oferecem propriedades antimicrobianas aos tecidos.

O episódio inaugural demonstrou que estas ideias já ultrapassaram o âmbito laboratorial e estão a ser implementadas na indústria. A JF Almeida foi apresentada como uma das empresas parceiras do projeto, aplicando já o potencial do dreche, da casca de pinheiro e da folha de oliveira. Paulo Lopes, João Almeida e Marco Barros foram alguns dos representantes da empresa têxtil-lar de Moreira de Cónegos que partilharam os avanços alcançados ao longo de oito anos de dedicação à bioeconomia, sempre com o objetivo de oferecer ao consumidor produtos mais naturais.

“A casca de pinheiro moída vai dar um pó; com esse pó faço a minha infusão e tinjo o substrato têxtil”, explicou Marco Barros.

Um dos primeiros resultados práticos desta abordagem é a Manta Be@t, composta por 30% de algodão reciclado — reduzindo assim a pegada ecológica — e tingida com corantes naturais.

Na abertura da série, António Braz Costa, diretor-geral do CITEVE, destacou que o projeto Be@t já deu três resultados principais: o primeiro foi tornar Portugal produtor de fibras a partir de madeira da floresta nacional, reduzindo a dependência de importações; o segundo foi o aperfeiçoamento das técnicas de reciclagem; e o terceiro foi a identificação de subprodutos e resíduos de outras indústrias como novas matérias-primas para o setor têxtil e vestuário.

O responsável sublinhou ainda a importância da ligação com outros setores de atividade e da valorização do fim de vida dos materiais como fonte de novos recursos.

“Os materiais utilizados na indústria são cada vez mais dependentes do petróleo. A lã é uma fibra muito nobre, mas estável há muito tempo; o algodão também é nobre, mas exige solos férteis. Com o aumento exponencial do consumo, a alternativa foi recorrer ao poliéster e à poliamida. Queremos mudar esse paradigma, apoiando o setor através da floresta e da agricultura portuguesas — ou mesmo europeias”, afirmou.

O Be@t Show lançou ainda o concurso Be@t Studio, que desafia três designers a criarem peças com base nos princípios do ecodesign, introduzindo a ligação entre sustentabilidade e design, apresentada por Paulo Gomes.

Como qualquer programa de entretenimento, não faltou um momento de “televendas” — neste caso, ficcional — dedicado à promoção do Passaporte Digital de Produto, com manequins e produtos exemplares, e um quizz interativo sobre três conceitos-chave: biomateriais, biocompósitos e bioacabamentos. Em todos foram apresentados exemplos do que o Be@t tem vindo a explorar, desde madeiras e algas a excedentes alimentares, até tecidos que repelem a água através de um bioacabamento com cera de abelha.

O próximo episódio do Be@t Show vai para o ar já amanhã.

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