04 dezembro 25
Empresas

Bebiana Rocha

Becri trabalha a sustentabilidade em todas as frentes

A Becri está a integrar a sustentabilidade em todas as áreas do seu negócio – processos, produtos, projetos, água, energia e circularidade. No webinar “A Economia Circular na Indústria Têxtil e Vestuário”, organizado no âmbito do projeto RESOTEX, Márcia Leite, diretora de sustentabilidade e RSE, apresentou o trabalho que está a ser desenvolvido para oferecer aos clientes soluções cada vez mais sustentáveis.

A responsável começou por destacar que a indústria têxtil e vestuário portuguesa mudou profundamente desde os anos 80, estando hoje muito mais focada nas questões ambientais e sociais. A Becri, com 40 anos de experiência, é reflexo dessa evolução.

Entre os exemplos apresentados, Márcia Leite salientou a colaboração com as marcas para dar nova vida a produtos não vendidos, a informatização de processos, sobretudo nas áreas da modelação, corte e armazém, e a automação produtiva.

Um dos avanços mais significativos diz respeito aos resíduos de malha provenientes do corte, que são agora recolhidos automaticamente, separados e enviados para recicladores. “É uma mais-valia: permite que, de forma rápida e sem intervenção humana, sejam enviados para reciclagem 99% dos resíduos de malha”, referiu.

A empresa tem igualmente apostado na produção on demand e na estamparia digital, que utiliza químicos menos agressivos. No capítulo das certificações, a Becri dispõe já de uma ampla gama para produtos orgânicos e reciclados, bem como para os seus processos internos.

Apesar disso, Márcia Leite observa uma tendência contraditória: “existe uma procura cada vez mais desenfreada por produtos certificados, mas menor por produtos reciclados”. Atualmente, mais de 90% dos produtos da Becri têm certificação.

Ainda assim, a empresa continua a investir na circularidade. Um dos exemplos é o Fiberloop, projeto que desenvolve peças com malhas compostas por 50% algodão orgânico e 50% algodão reciclado.

Outro é o ReStyle, que transforma modelos não vendáveis em novas peças, como converter vestidos em t-shirts ou saias. No campo do upcycling, a Becri recebe contentores de peças enviadas por clientes e cria produtos novos a partir delas – desde frentes de t-shirts a partes de calças ou pedaços de malha estampada -, resultando em peças únicas de elevado valor acrescentado.

A sustentabilidade hídrica é outro ponto crítico. Márcia Leite sublinhou que purificar água é cada vez mais difícil e caro, pelo que a empresa tem otimizado processos, sobretudo na lavandaria. “Temos um caso em que fazemos a lavagem com recurso a vaporização em vez do método convencional. Fazemos também o controlo bioquímico de todas as águas residuais.”

Na vertente energética, a empresa aposta na energia solar, recorrendo, por exemplo, a solar tubes. Segundo a responsável, a empresa “nem sentiu o apagão”.

Márcia Leite reforçou ainda que as empresas mais inovadoras em Portugal estão a fazer investimentos significativos em colaboração, tecnologia e partilha de conhecimento, mas alertou para a necessidade de estes esforços serem reconhecidos pelo mercado: “Se nada chegar às marcas, este esforço por si só não chega”.

Defendeu também que a circularidade não deve ser apenas um requisito para cumprir relatórios ou exigências dos clientes, mas sim um pilar integrado na legislação. E deixou um aviso sobre a concorrência desleal de plataformas de países terceiros, tema já amplamente destacado pelo setor.

“Enquanto não houver regras, o preço vai continuar a ditar o que acontece na indústria. A União Europeia tem de avançar com regras de competição justa.”

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