Bebiana Rocha
Portugal vai a eleições, uma decisão que traz consequências para a principal região exportadora do país – a região Norte. A ATP – Associação Têxtil e Vestuário de Portugal e a Associação Empresarial do Minho estiveram ontem no programa ‘Ordem do Dia’ do Porto Canal para falar sobre o impacto da queda do Governo no sector empresarial e na economia.
“Estamos a viver uma situação difícil do ponto de vista económico. Estão a acontecer muitas transformações no sector, quer seja do ponto de vista da sustentabilidade, quer da circularidade e digitalização, que obrigam a investimentos enormes por parte das empresas”, começou por dizer Ana Dinis, acrescentando que era tudo o que o sector têxtil e vestuário menos precisava neste momento.
A diretora-geral tentou ao longo das suas intervenções vincar o papel das Associações enquanto interlocutores com o poder político. “As eleições trazem mudanças de protagonistas, para nós significa começarmos do zero a apresentar o sector, a sua importância, os desafios, que políticas necessita. Começamos esse périplo há um ano, já estávamos a ter algum entendimento, corremos agora o risco de reiniciar toda a conversa”, refere.
O distanciamento entre a esfera pública e a esfera privada foi outro dos pontos tocados. As PMEs são o motor da economia, vivem no mundo real, e como tal não podem esperar por decisões que demoram um ano a chegar. Ana Dinis pediu mais transparência por parte das entidades públicas e celeridade. “Devemos estar preocupados em gerar riqueza, os políticos não têm o interesse geral como principal preocupação”, reconheceu, dando como exemplo a questão da produtividade, que raramente é debatida.
“Estamos a solicitar às empresas que façam uma grande transformação aos seus modelos de negócio, o que obrigada a investimentos de tecnologia. Tem de existir mais flexibilidade laboral não para despedir pessoas, mas para ajustar as organizações a uma nova realidade que permita às empresas manterem-se no mercado”, puxou ainda.
Nesta temática, a representante da ATP falou sobre a formação que está a ser feita internamente nas empresas para que os colaboradores adquiram novas competências. A fechar a conversa, Ana Dinis foi questionada sobre a possibilidade de se perder as verbas do PRR. “Temos algumas agendas mobilizadoras financiadas, a não execução preocupa-nos porque se foram desenhadas, desenvolvidas e aprovadas é porque são importantes para o país”.
A ameaça de Donald Trump de imposição de taxas à Europa, fechou o discurso, sendo preocupante o impacto que a pauta tarifária aduaneira pode causar nas relações diretas e nas retaliações. “Os EUA são fora do espaço comunitário o nosso principal destino de exportação. O que vier de decisões tarifárias terá impacto, a pauta aduaneira já não é reciproca e ao acontecer o aumento das taxas outros players vão também reposicionar-se e vão haver fornecedores a procurar a Europa” para escoar as suas produções, constata.
Ramiro Brito, presidente da AE Minho, mostrou-se em vários momentos alinhado com a posição da ATP, nomeadamente que os deputados devem colocar o interesse nacional em primeiro lugar, que há uma relação direta entre a atividade económica e os governantes e que a alteração dos atores políticos traz indefinição às empresas. Para assistir ao programa na integra clique aqui.