Bebiana Rocha
No âmbito do projeto RDC@ITV – Roteiro para a Descarbonização da Indústria Têxtil e Vestuário, a ATP – Associação Têxtil e Vestuário de Portugal apresentou ontem, no auditório do CITEVE, um exercício prospetivo com três possíveis cenários para o setor até 2050.
A apresentação esteve a cargo de Ana Dinis, diretora-geral da ATP, que começou por contextualizar a análise com base em indicadores macroeconómicos como o crescimento do PIB, a evolução do comércio mundial, as taxas de juro, a procura de bens, a inflação e os preços.
Os três cenários delineados foram: 1. Cenário Base – crescimento moderado, compatível com um impacto limitado dos fundos comunitários; 2. Cenário Pessimista – estagnação, com ausência de condições para investir, escassez de mão de obra e fraco apoio público e 3. Cenário Otimista – crescimento acima do esperado, com capacidade para atrair talento e capitalizar as empresas.
No cenário base, o volume de negócios da indústria cresceria 16% entre 2021 e 2050 (atingindo os 9 294 milhões de euros). No cenário pessimista o crescimento de 5% (totalizando 371M€). Já no cenário otimista, o setor cresceria no volume de negócios 30% (chegando aos 10 375M€).
A produção também foi analisada: em 2050, no cenário base, estima-se um crescimento de 15% face a 2021 (para 8 956M€). No cenário pessimista, a subida seria de apenas 4% (8 079M€), enquanto no cenário otimista a produção cresceria 29% (atingindo 10 008M€).
O Valor Acrescentado Bruto (VAB), que em 2021 era de 2 557M€, aumentaria 16% (para 2 961M€) no cenário base, 4% (2 669M€) no pessimista e 29% (3 306M€) no otimista.
Tendo em conta o peso das exportações no setor, a sua evolução foi igualmente projetada: no cenário base, as exportações cresceriam 17% face a 2021 (para 6 360M€). No cenário pessimista o crescimento seria limitado a 5% (5 681M€), e no otimista teríamos um acréscimo de 28% (6 947M€).
Já os indicadores de emprego e número de empresas apresentam evoluções negativas nos três cenários, refletindo os efeitos da digitalização, automatização e consolidação empresarial. Em 2021, o setor empregava 126 940 trabalhadores. Em 2050, espera-se uma redução de 6% no cenário base, 7% no cenário pessimista e 4% no otimista. Quanto ao número de empresas, que era de 11 835 em 2021, estima-se que baixe 15% (cenário base), 24% (cenário pessimista) ou 4% (cenário otimista).
“É um exercício muito difícil estimar o setor a longo prazo. Até porque os últimos anos mostram-nos que não sabemos nada”, comentou Ana Dinis, sublinhando que “tudo depende da nossa ação ou inação, da forma como nos organizamos e como nos movemos individualmente”.
O objetivo, destacou, é que o setor avance na transição ecológica sem comprometer a sua competitividade. Contudo, alertou para os obstáculos que persistem: o défice de escala, a dificuldade de capitalização das empresas, os constrangimentos em atrair novos talentos e um quadro regulamentar exigente. A estes juntam-se o fraco crescimento do PIB e o baixo dinamismo do consumo.
“Na teoria, temos vindo a falar muito sobre industrialização, mas na prática não é isso que sentimos. Sempre que possível, há uma relocalização para mercados mais competitivos e menos regulados. Para além disso, temos um grave problema de fiscalização de políticas e de mercado”, criticou.
Entre as recomendações deixadas pela ATP para enfrentar os desafios futuros, destacam-se a exploração de novos modelos de negócio, a aposta na economia circular e o reforço da cooperação entre empresas.